“Um bom telegrafista tinha a educação de falar com você e escutar o barulho e saber o que que era que estavam falando. Eu cheguei a conviver com eles e creio que um bom era um cara que conseguia dividir a atenção desse jeito, né? Eles eram muito atenciosos, todos eles, e eram todos crânio.”
Depoimento de Jesus Aparecido de Oliveira, ajudante de maquinista aposentado.
“Meu irmão Santos aprendeu a telegrafia com 13 anos. Diferente do telégrafo da Rede, que era código Morse, o da Mogyana eram duas teclas, fazendo o barulho como se fosse de cigarra. Ele aprendeu sozinho, vendo os outros telegrafistas.”
Depoimento de Maria Aparecida Portelinha, familiar de ferroviário e moradora do entorno.
“O chefe da estação era uma figura respeitada porque ele tinha uma responsabilidade muito grande sobre a ferrovia, né? Ele podia despachar ou podia segurar o trem o tempo que ele quisesse; ele que tomava essa decisão. Ele era uma figura com tanta importância na comunidade que ele era uma espécie de juiz, quase fazia casamentos como um padre, ele tinha o status, né? O chefe da estação e o fazendeiro eram os mais importantes da região. Eles tinham uma espécie de conselho local.”
Depoimento de João Gilberto Bento, morador do entorno.
“Depois eu viajei também no Bandeirantes. Os bancos eram altos, de almofada, diferente do da Mogyana que era de madeira, nada confortável. Tinha dormitórios por ser à noite e jantávamos no vagão restaurante.”
Depoimento de Maria Aparecida Portelinha, familiar de ferroviário e moradora do entorno.
“No comecinho do século passado as marias-fumaças eram menorzinhas, então você precisava de uma distância muito curta entre uma estação e outra porque era o tempo em que essa caldeira evaporava a água e você tinha que reabastecer essa caldeira novamente. O Brasil tem pouco carvão mineral, não tem em abundância como na Europa. Então, aqui, além da água, você abastecia as marias-fumaças de lenha. Era lenha que cê punha lá pra esquentar a caldeira e fazer o vapor. Então, as estações, além de abastecer as locomotivas de água, abasteciam também de lenha.”
Depoimento de João Gilberto Bento, morador do entorno.
“Todo mundo sentiu do trem parar.”
Depoimento de Darci Helena Nicolau, moradora de Peirópolis.
“Meu pai tinha venda na rua Marquês do Paraná e a maioria dos fregueses eram funcionários da Mogyana, que compravam de caderneta e que muitas vezes demoravam a receber seus salários devido aos atrasos nos pagamentos. No final do mês, quando recebiam, eles pagavam. Momentos difíceis, em que os ferroviários passavam até dois meses sem receber. Numa dessas ocasiões, vendo o desespero dos fregueses, meu pai tomou a decisão mais que generosa, rasgando a caderneta deles, perdoando todas suas dívidas.”
História de Jorge Alberto Nabut, jornalista, escritor uberabense morador das proximidades da praça da Mogiana.