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Labuta
As memórias dos trabalhadores trirrienses dos tempos de lida na ferrovia costumam passar também pela saudade dos dias entre os colegas, que acabaram por se transformar em grandes amigos. Contudo, apesar do saudosismo e da vontade de muitos em voltar no tempo para reviver essas histórias, o trabalho também envolvia grandes desafios. As longas escalas, os acidentes e as condições com frequência precárias dos dormitórios e da alimentação eram algumas das questões pelas quais os trabalhadores precisaram se organizar para reivindicar melhorias. A labuta sempre fez parte da vida dos ferroviários, que, inclusive, voluntariamente se organizaram para contribuir em importantes construções da cidade.

Muito prazer, eu sou o maquinista! Conduzir um veículo tão grande e pesado é um trabalho que exige muita atenção. Por isso, por muito tempo, viajei com meu auxiliar ao lado, que me ajudava a segurar as pontas quando eu precisava de um descanso.

O Maquinista

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Condições de trabalho

Por muitos anos, as condições de trabalho dos ferroviários foram precárias. Os maquinistas, por exemplo, cumpriam longas escalas de trabalho com pouco tempo para o descanso. Eles tinham cerca de 10 horas para repousar e logo pegavam estrada novamente.

Mesmo no período de repouso não conseguiam descansar adequadamente, pois ficavam em dormitórios com colchões feitos de capim. Além disso, eles ficavam muitas horas sem fazer uma refeição, pois não recebiam alimentação. A solução era levar suas marmitas de casa e comer a comida fria, pois as locomotivas não tinham lugar para aquecer a refeição.

Greve na ferrovia

Essas duras condições de trabalho geraram revolta nos ferroviários, que começaram a se organizar para reivindicar melhorias justamente no momento em que o movimento sindical começava a se fortalecer no Brasil (décadas de 50 e 60).

Três Rios tinha um sindicato atuante que participava das reivindicações, puxando inclusive as greves. Nessas paralisações, os ferroviários interrompiam as viagens, tiravam máquinas do trecho e soldavam rodas de vagão no trilho.

Muitos ferroviários aposentados contam que se sentiram perseguidos pela empresa após a greve, e alguns chegaram a ser demitidos e processados por isso.

Força ferroviária na construção da cidade

A força ferroviária em Três Rios foi significativa para construções que aprimoraram a cidade. A Igreja Matriz São Sebastião recebeu em seu processo de construção, em 1931, ajuda dos operários do 3º depósito, que também compraram o bronze e fundiram o sino da Igreja na oficina. A construção foi concluída em 1942 e consagrada como Igreja Matriz de São Sebastião. Os ferroviários de Três Rios também apoiaram o padre Barroso, vigário da Matriz de São Sebastião, na empreitada para a construção do Hospital Nossa Senhora da Conceição, inaugurado no dia 7 de abril de 1938.

Acidentes e explosões

Os anos de 1939 e 1940 ficaram marcados pelos acidentes ocorridos na região. Em março de 1939, uma composição se chocou com uma locomotiva, deixando feridos. No mesmo ano, em abril, um trem de cargas descarrilhou durante a realização de uma manobra de entrada na estação ferroviária e acabou partindo o trilho.

Já em 1940, dois trens de cargas que transitavam na estação ferroviária de Entre Rios se chocaram. Uma triste curiosidade desse acidente é que os bois que estavam sendo transportados pela locomotiva tiveram muitos ferimentos e precisaram ser sacrificados. Ao longo dos anos, as estratégias de segurança foram se aprimorando e os acidentes, tornando-se cada vez menos frequentes.

Três Rios também foi cenário de grandes explosões de trens. Na primeira delas, em outubro de 1932, o trem carregava material bélico, pólvora e munições. A explosão atingiu dois vagões e o posto de conserva da estação, levando a seis mortes e mais de 30 feridos. Uma segunda explosão aconteceu em 1950, também com um trem transportando explosivos.

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