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Estação Três Rios

Três Rios | MG

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Como tudo começou
Dos povos originários Puris, passando pela era imperial, até os dias de hoje. Conheça a história da ferrovia em Três Rios, desde a sua precoce chegada em 1867, as transformações ao longo do tempo e o papel crucial da ferrovia no desenvolvimento econômico e social da cidade.

Ho! Pode vir chegando, pessoal! Eu sou a Vó Puri, da etnia dos indígenas Puris. Fomos os primeiros a chegar nestas terras que hoje chamamos de Três Rios...

- Vó Puri

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A chegada da Ferrovia na região

A estrada de ferro chegou cedo na Vila Entre Rios, que mais tarde seria chamada de Três Rios. O ano era 1867: 13 anos depois da construção da primeira ferrovia do Brasil. A história da Estação Ferroviária de Entre Rios tem muitas curiosidades que envolvem de Dom Pedro II, a Condessa do Rio Novo e até a falência da Estrada Rodoviária União e Indústria. Navegue pela linha do tempo para conhecer algumas histórias:

1817

A origem das terras onde foram construídas as estações

O fazendeiro Antônio Barroso recebeu terras de sesmarias entre os rios Paraíba e Paraibuna. No local, fundou cinco grandes fazendas (Cantagalo, Rua Direta, Piracema, Cachoeira e Boa União). O município foi se desenvolvendo nos entornos desses terrenos. A maior de todas as fazendas, a Cantagalo, recebeu importantes prédios, entre eles os prédios da estação ferroviária, da estação de cargas e das oficinas do 3º Depósito. Antônio Barroso tornou-se Barão de Entre Rios em 1852. Faleceu em 1862 e sua filha, Mariana Claudina Pereira de Carvalho, a Condessa do Rio Novo, ficou à frente dos negócios da família.

1835

Decreto Feijó: o primeiro plano ferroviário do Brasil

O Decreto Feijó, ou Decreto nº 101, de 31 de outubro de 1835, é considerado o primeiro plano ferroviário do Brasil. Estabeleceu a construção de três grandes trechos ferroviários ligando o Rio de Janeiro, capital do Império na época, às capitais da Bahia, de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul. O Regente Feijó determinou que o Governo era o responsável pela designação das cidades e pelas vilas por onde a estrada passaria.

1852

Início da construção da primeira ferrovia do Brasil

Irineu Evangelista de Souza, o Barão e Visconde de Mauá, foi pioneiro na construção de ferrovias pelo Brasil. Inaugurou a primeira no país com o apoio do Imperador Dom Pedro II, em 30 de abril de 1854, no Rio de Janeiro. Assim, o setor ferroviário tornou-se uma grande novidade que atraiu empresas e empresários para investimentos nas ferrovias.

1856

Início da construção da Estrada Rodoviária União e Indústria

A Estrada de Rodagem União e Indústria chegou na região de Três Rios antes mesmo da Estrada de Ferro. Com o apoio do Império, foi aberta uma estrada de terra para fazer a ligação entre Petrópolis (RJ) e Juiz de Fora (MG), com parada em Entre Rios (RJ). O trajeto tinha paradas em 12 estações, chamadas de Estação de Muda, sendo uma delas (a 6ª) localizada nas terras da Fazenda Cantagalo, em Entre Rios. Para a passagem das carruagens pela Estrada foi construída a Ponte do Paraíba, depois chamada de Ponte das Garças. Em 1861, na inauguração, a família imperial desceu da carruagem e atravessou a ponte a pé.

1858/60

Início das negociações para a chegada da Estrada de Ferro

Para a construção da ferrovia na região, foi necessária a doação de parte das terras da Fazenda Cantagalo, propriedade do Barão de Entre Rios. As negociações começaram entre 1858 e 1860 e só foram concluídas em abril de 1882, quando a Condessa do Rio Novo sacramentou a doação do terreno.

1861

Inauguração da Estrada União e Indústria

A inauguração da “Estrada União e Indústria” aconteceu no dia 23 de junho de 1861 e contou com a presença do Imperador Dom Pedro II e dos demais membros da Casa Imperial. O trajeto entre Petrópolis e Juiz de Fora durava, com as paradas, 12 horas. Na “Estação da Muda”, ou “das Diligências” acontecia a troca dos animais e os passageiros almoçavam e descansavam alguns minutos.

1867

Inauguração da Estação Ferroviária de Entre Rios

A Estação de trem foi inaugurada no dia 13 de outubro de 1867 diante da comitiva imperial de Dom Pedro II. A ferrovia contribuiu para o aumento do número de habitantes na região, contando com os que vieram para a sua construção e os que chegaram em busca de oportunidades, impulsionando o comércio e o desenvolvimento local.

1867

Recepção da comitiva imperial pela Viscondessa do Rio Novo

Conforme noticiado pelo Diário do Rio de Janeiro, no dia 14 de outubro de 1867, a Condessa do Rio Novo (na época ainda Viscondessa) foi a responsável pela recepção da Comitiva Imperial em Entre Rios e pela realização de um almoço na estação após a inauguração. Seu marido – José Antônio Barroso de Carvalho, o Visconde do Rio Novo – estando enfermo na ocasião, recebeu uma visita da Família Imperial em sua residência.

1869

Decadência da Companhia União e Indústria

A Companhia Rodoviária começou a decair a partir do Decreto nº 2320, de 13 de janeiro de 1869, elaborado por Joaquim Antão Fernandes Leão, conselheiro imperial, e assinado pelo Imperador Dom Pedro II. Determinava que todas as cargas de mercadorias fossem transportadas apenas por meio da estrada de ferro. Muitos encararam com desconfiança essa decisão de migração do transporte de cargas para o setor ferroviário.

1871

Inauguração do Monumento Ferroviário

Para comemorar a inauguração do ramal da Linha do Centro da Estrada de Ferro Dom Pedro II, trecho que partia de Entre Rios e seguia em direção a Juiz de Fora, foi construído um Monumento Ferroviário – que segue preservado, tendo sido tombado como patrimônio pelo município em 1997.

1881

Testamento da Condessa

Em seu testamento, escrito em 1881, a Condessa do Rio Novo (falecida em 1882), deixou as terras da Fazenda de Cantagalo e a alforria para todos os seus escravos. Áreas da fazenda principal foram destinados a serviços da Estrada de Ferro Dom Pedro II e outros bens ficaram sobre a administração da Irmandade Nossa Senhora da Piedade.

1955

PL retoma a Doação de Terras da Fazenda Cantagalo para ferrovia

Apresentado pelo deputado federal Francisco Saturnino Braga, o projeto de lei Nº 368 de 1955 certifica a doação dos terrenos na Fazenda Cantagalo para a Prefeitura de Três Rios. Tal determinação é justificada pela existência de uma escritura de doação de terrenos da Condessa do Rio Novo ao Estado para o serviço da Estrada de Ferro D. Pedro II, assinada e arquivada na secretaria da ferrovia em 30 de abril de 1882.

As transformações da estrada de ferro

Desde a chegada do primeiro trem à região, os trilhos de Três Rios já testemunharam grandes transformações Alguns marcos são: o fim da Estrada de D. Pedro II, a chegada da Leopoldina e a triste destruição de grande parte do complexo ferroviário trirriense.

1867

Início do trem de passageiros

Normalmente rodando em bitola métrica, o trem de passageiros começou a cruzar Entre Rios em 1867, interrompendo suas atividades na estação por volta de 1984. Em 2018, a bitola métrica foi reativada em Três Rios, passando por manutenções para receber o trem turístico de passageiros Rio-Minas, com previsão de inauguração em 2023.

1889

Estrada de Ferro D. Pedro II se transforma em Estrada de Ferro Central do Brasil

Com a Proclamação da República do Brasil, o antigo trecho da Companhia Estrada de Ferro D. Pedro II passou a se chamar Estrada de Ferro Central do Brasil, ganhando novas rotas e territórios.

1898

Os trilhos da Leopoldina chegam a Entre Rios

A Companhia Estrada de Ferro Leopoldina (CEFL), inaugurada em 1874, foi a primeira ferrovia implantada em Minas Gerais. Vinte anos depois, sofreu uma grande crise financeira que culminou na sua transferência de controle a credores britânicos. Em 1898, os empresários londrinos modificaram seu nome para The Leopoldina Railway Company LTD, dando início a uma reestruturação e modernização da ferrovia com novos ramais e estações. Foi a partir dessa expansão que as linhas chegaram a Entre Rios. Assim, a região passou a receber tanto os ramais da Estrada de Ferro Central do Brasil quanto os novos da The Leopoldina Railway Company LTD.

1900

Inauguração da “Casa de Pedra”

Com os novos ramais da The Leopoldina Railway Company LTD no munícipio, a empresa construiu sua própria estação, a Estação Casa de Pedra. Dela partiam trens que iam a Caratinga (MG) e Manhuaçu (MG), por exemplo. Após alguns anos, passou a ser utilizada como estação de carga e descarga dos trens. Ao lado da Casa de Pedra ficavam as oficinas de reparo, manutenção e conservação de carros de passageiros e vagões de carga da Leopoldina. A Estação Casa de Pedra manteve seu funcionamento até 1994. É tombada como patrimônio cultural do município desde 1997, e valorada como patrimônio cultural. Hoje, abriga o Espaço da Ciência da Secretaria de Educação e o projeto Estação de Memórias.

1900

Inauguração da Estação Triângulo

A Estação Triângulo recebia o fluxo de trens da The Leopoldina Railway Company LTD e funcionava como um posto de controle de manobras das locomotivas vindas do Rio de Janeiro. Até 1901, para chegar à Estação Casa de Pedra, os trens deveriam se dividir em dois e realizar uma manobra de ré. Contudo, após vários acordos, a Estrada de Ferro Central do Brasil autorizou a Leopoldina a utilizar suas linhas partindo da Estação Triângulo até a Estação Ferroviária de Entre Rios.

1950

Estatização da The Leopoldina Railway Company LTD

A companhia enfrentou grandes dificuldades econômicas, especialmente devido ao declínio das lavouras de café, que comprometeram seu funcionamento. Assim, o Governo Federal, por meio da Lei nº 1.288, de 20 de dezembro de 1950, encampou a companhia e modificou seu nome para Estrada de Ferro Leopoldina. Assim, seus trilhos passaram a fazer parte da União, representante jurídica do Governo.

1957

Criação da Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA)

A RFFSA foi criada em 16 de março de 1957, pela consolidação de 18 ferrovias regionais presentes no acervo patrimonial do governo da União – dentre elas, a Estrada de Ferro Leopoldina.

1964

Desativação da Estação Triângulo

Com a extinção do trem de Petrópolis, a Estação Triângulo deixou de ser utilizada, já que era o ponto final dessa linha do trem.

1996

Fim do trem de passageiros em Três Rios

Em 1996 a RFFSA promoveu a privatização da malha ferroviária dividida em 6 regiões. A malha Sudeste que inclui a antiga linha do Centro foi leiloada no mesmo ano e arrematada por um consórcio da MRS Logística formada por várias empresas. As linhas privatizadas da malha Sudeste passaram a fazer exclusivamente o transporte de cargas, especialmente o minério.

1998

Demolição de parte do complexo da Estação

Ao final dos anos 90, parte do complexo da Estação foi demolido para o alargamento da Av. Condessa do Rio Novo, iniciado em 1998.

1999

Dissolução da RFFSA

Em 1999, a empresa RFFSA foi dissolvida e liquidada. Suas ferramentas operacionais, como infraestrutura, vagões e locomotivas, foram arrendadas por outras operadoras de ferrovias, entre elas a Ferrovia Centro Atlântica (FCA), que adquiriu os trechos de Três Rios. À RFFSA ficou a responsabilidade de fiscalizar os ativos arrendados.

2003

FCA assume o trecho

Em 2003, a mineradora multinacional VALE assumiu o controle acionário da FCA.

2007

Extinção da RFFSA

A Medida Provisória nº 353, de 22 de janeiro de 2007, determinou a extinção da RFFSA, devido a decisões governamentais de cortar gastos no setor ferroviário.

2011

Trecho passa a ter concessão da VLI

Foi criada, a partir da diretoria de logística de cargas gerais da Vale, a VLI Multimodal S.A, que assumiu o controle da ferrovia e mantém o cuidado com o trecho até o presente momento.

De Entre Rios a Três Rios

O movimento autonomista culminou com a emancipação do distrito de Entre Rios que se constituiu como município autônomo, denominado Entre Rios. Essa importante mobilização contou com a participação de centenas de ferroviários.

1890

Entre Rios é elevado a 2º distrito do governo de Paraíba do Sul

Com a chegada da rodovia e ferrovia na região de Entre Rios, o local se desenvolveu economicamente e aumentou bastante sua população ao longo dos anos. Devido a essas transformações, em agosto de 1890, a Vila de Entre Rios subiu à categoria de 2º distrito de Paraíba do Sul. A expansão foi tamanha que Entre Rios chegou a superar Paraíba do Sul tanto em termos de contingente populacional como de qualidade de vida.

1920

Início do movimento autonomista

O distrito de Entre Rios estava em constante desenvolvimento e os entrerrienses começaram a participar mais ativamente da vida política de Paraíba do Sul, município ao qual era ligado. Em pouco tempo, o desejo de se tornar um município emancipado foi se instaurando, e assim, na década de 20, iniciou-se uma grande campanha para a autonomia de Entre Rios. Os autonomistas incentivavam a população a aderirem as suas reinvindicações com publicações na imprensa. Os jornais eram o “Arealense” e o “Entre Rios Jornal”. Organizados em um movimento político cultural, fundaram a “Liga Progresso de Entre Rios”, em 1927, que contava com vários ferroviários no apoio ao movimento.

1938

Separação de Paraíba do Sul

Os esforços dos autonomistas foram compensados em 14 de dezembro de 1938, quando o movimento se saiu vitorioso. O comandante Ernani do Amaral Peixoto, interventor federal do estado do Rio de Janeiro, foi quem assinou o decreto concedendo a emancipação administrativa e política a Entre Rios.

1939

É instalado o município de Entre Rios

Com a emancipação conquistada, o município de Entre Rios foi instalado no dia 1º de janeiro de 1939, constituindo seu próprio governo. O primeiro interventor da cidade foi o Dr. Walter Francklin (1939-1945), responsável pela construção do prédio da prefeitura e por outras melhorias na região.

1943

Mudança de nome para Três Rios

A região permaneceu como Entre Rios até 1942, quando o Governo Federal exigiu que outro nome fosse escolhido por já existir outros municípios com o mesmo nome. Assim, o prefeito da época, Dr. Walter Franklin, optou por renomear a cidade – e, por consequência, a Estação Ferroviária – como “Três Rios”. Uma homenagem aos rios Paraíba, Paraibuna e Piabanha, que banham o município. O novo nome da cidade foi oficializado em 31 de dezembro de 1943.

1955

Praça Dr. Oscar se transforma em Praça da Autonomia

O principal local de reunião dos autonomistas era a Praça Dr. Oscar Weinschenck. O local abrigava um grande coreto que também recebia, nos momentos de lazer, as apresentações da Banda composta por ferroviários do Grêmio Musical 1º de Maio. Em 15 de março de 1955, o Prefeito Joaquim Ferreira, que também foi ferroviário, mudou o nome da praça que passou a ser denominada Praça da Autonomia, em homenagem ao movimento de emancipação do município. O Coreto e a Praça da Autonomia são tombados como patrimônio cultural do município e pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural – Inepac.

O café na história ferroviária de Três Rios

Três Rios foi destaque na produção e no escoamento do café. Conheça alguns dos grandes marcos em que essa história também se cruza com a da ferrovia.

1926

Construção do Armazém Regulador de Café do Estado de Minas Gerais

O prédio destinado a receber e a distribuir a safra cafeeira contava com um ramal ferroviário para a manobra de locomotivas e vagões, facilitando assim o transporte do produto na estação de cargas. 

1931

A grande queima de café

Três Rios foi destaque na produção e no escoamento do café. Possuía armazéns e barracões destinados ao produto, além de contar com o auxílio da ferrovia para o transporte dos grãos pelo país. Desse modo, as decisões governamentais a respeito da economia cafeeira no Brasil afetavam diretamente a cidade. Um dos maiores exemplos é o da queima de café ocorrida em 1931. Getúlio Vargas, o presidente da época, diante da crise econômica ocasionada pela quebra da bolsa de Nova York, ordenou que toneladas de café fossem queimadas a fim de elevar o preço do produto no exterior e estabilizar a economia cafeicultora em solo nacional. 

“O responsável pelo armazém de café recebeu do governo Vargas a ordem de queimar o café que estava aqui. Para não jogarem o café simplesmente fora, o usaram nas locomotivas. Então, as locomotivas foram tocadas a café. E isso deu um cheiro de café absurdo na cidade. (…) Então, um pouco dessa história do café aqui em Três Rios, vemos como a ferrovia foi importante. E como aqui era o depósito que carregava da região inteira, muita coisa entrava e saía realmente por aqui. O fluxo era gigantesco de café aqui da região.”

Depoimento de Bernardo Goytacazes de Araújo  

1950

Declínio da lavoura cafeeira

Com o declínio da lavoura cafeeira, a The Leopoldina Railway Company LTD passou a enfrentar grandes dificuldades econômicas novamente, que comprometeram seu funcionamento. No fim, a companhia foi encampada pelo Estado Brasileiro. 

 

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