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O estado de Minas Gerais foi primeiramente habitado por indígenas de diferentes etnias. Eles se concentravam no entorno das bacias hidrográficas, onde os recursos essenciais eram mais fáceis de obter. Dentre essas diferentes etnias, destaca-se a presença dos Cataguás em diversas regiões do atual estado de Minas Gerais. Os Cataguás inicialmente dominavam o sul do estado, nas proximidades do rio Grande e na fronteira com o atual estado de São Paulo.
Para ampliar o controle do Império Colonial, foram realizadas expedições rumo ao interior do Brasil. Durante essas expedições, os paulistas chegaram à região chamada de Sertão, que compreende também a atual Minas Gerais. Devido à presença numerosa dos Cataguases, a região passou a ser denominada “Sertão dos Cataguases”. Ao longo das décadas, os bandeirantes atacaram e escravizavam os indígenas. O intenso confronto entre paulistas e indígenas resultou na dizimação de grande parte dos povos Cataguases.
Com a descoberta de pedras preciosas nas encostas da serra em 1702, o bandeirante Tomé Portes del-Rey estabeleceu um pedágio na travessia do rio das Mortes, em um local chamado Porto Real da Passagem. Nesse período, João de Siqueira Afonso encontrou ouro nas encostas da Serra de São José e ao longo dos rios das Mortes e Turvo. A partir daí, surgiu uma povoação chamada Arraial de Santo Antônio. Com o tempo, o local ficou conhecido como Arraial Velho do Rio das Mortes devido ao surgimento, em 1704, do Arraial Novo do Rio das Mortes (hoje São João del-Rei).
Em 1708, já com a formação da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, foi erguida a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, especialmente pela população negra da cidade. A Irmandade se esforçou para constituir o templo com bela ornamentação ao aplicar talha e pintura. Os legados do trabalho e da cultura do povo afro-brasileiro em Tiradentes, desde a formação da cidade, ainda podem ser identificados nas construções e nas culturas afrodiaspóricas que permanecem em atividade, como o Congado e a Capoeira, por exemplo.
Uma guerra foi travada entre os bandeirantes paulistas e os exploradores, vindos de outras regiões, interessados no ouro do Sertão brasileiro. Os bandeirantes queriam exclusividade na exploração da região. Disso eclodiram diversos conflitos; um deles ocorreu em um local que passou a ser chamado “Capão da Traição”, na Vila de São José del-Rei, atual cidade de Tiradentes. Nesse embate, os emboabas, ou seja, os não paulistas, saíram vencedores. A Coroa Portuguesa endureceu a cobrança de impostos e passou a cobrar a quinta parte de todo o ouro extraído.
A maior parte das edificações de Tiradentes e de suas igrejas foram construídas no início do século 18, como a Matriz de Santo Antônio, feita em 1710. Ao redor das igrejas e capelas foram se estabelecendo casas – na parte mais alta da cidade. Em 1718, a localidade foi elevada à categoria de vila e recebeu o nome de São José del-Rei em homenagem ao príncipe D. José, então futuro rei de Portugal. Até o início do século 19, devido à grande quantidade de metais preciosos, São José del-Rei foi considerada uma grande vila, com uma população de mais de 20 mil habitantes e 33 distritos.
Foi um movimento de protesto da elite econômica contra a cobrança de impostos pela Coroa Portuguesa. A Vila de São José liderou a conspiração. O alferes Joaquim José da Silva Xavier, conhecido como Tiradentes, morava na região do rio das Mortes e fez parte desse movimento. Os inconfidentes tinham ideais republicanos e foram contra o sistema político e econômico imposto pela metrópole. A conspiração foi descoberta; o único insurreto a ter seu perdão negado foi Tiradentes, que foi condenado e enforcado em 21 de abril de 1792. A construção da imagem de Tiradentes como mártir ocorreu após a Proclamação da República em 1889.
A exploração do ouro em São José del-Rei (atual Tiradentes) teve seu auge no início do século 18. Entretanto, já no final do mesmo século surgiram evidências de esgotamento, levando ao declínio da exploração do metal na região. No início do século 19, as minas de São José del-Rei não geravam mais riquezas como antes. Muitos que tinham enriquecido com a mineração migraram para o Vale do Paraíba e voltaram-se para a produção de café.
Diante do esgotamento da exploração das pedras preciosas no século 19, Tiradentes teve sua economia local transformada, basicamente, de mineração a agricultura e pecuária. Para melhorar a economia local, tentou-se implementar fábricas de tecidos e da companhia de mineração inglesa, a General Mining Association, mas sem sucesso. Mesmo com a instalação da Estação Férrea de Tiradentes em 1881, que promoveu uma certa circulação de mercadorias, não houve impacto significativo nesse núcleo. Assim, o cenário decadente perdurou por décadas.
Em 28 de agosto de 1881, a Estrada de Ferro Oeste de Minas foi inaugurada, com estações em Sítio, Barroso, Prados, São José del-Rei (atual Tiradentes) e São João del-Rei. Com a chegada da ferrovia, o comércio de produtos foi muito ampliado, assim como a troca de informações, além do maior fluxo de pessoas. Uma característica notável dessa ferrovia era a sua bitola de 76 cm, que proporcionava qualidade técnica e baixo custo de implementação, tornando-se uma alternativa viável para a geografia acidentada do estado de Minas Gerais. Foram construídos 600 km em extensão.
A partir de 1889, o escritor carioca Antônio da Silva Jardim realizou comícios em diversas cidades nos estados de Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, com o intuito de espalhar as ideias republicanas. Em 1889, durante uma visita à cidade de São José del-Rei, na Estação Ferroviária de São José, ele fez um discurso pela causa republicana e propôs a alteração do nome da cidade para Tiradentes, em homenagem ao inconfidente mineiro. Em dezembro do mesmo ano, a cidade teve seu nome alterado.
Em 1924, vieram intelectuais artistas paulistas, os modernistas, que embarcaram no trem e visitaram diversas cidades mineiras, incluindo Tiradentes. O grupo ficou impressionado com a decadência da cidade, que parecia ser um local esquecido pelo tempo. Maravilhados com o que viram nas cidades mineiras, iniciaram discussões em favor da sua preservação, em especial de Tiradentes. Com isso, em 1938, foi decretado o tombamento do Conjunto Arquitetônico e Urbanístico da Cidade de Tiradentes pelo SPHAN – Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
No final do século 18, a maior parte das cidades mineiras, devido à decadência do ouro na região, apresentava um atraso econômico regional em relação às províncias litorâneas. As construções de ferrovias vieram como solução para unir o sertão ao litoral, especialmente Estrada de Ferro D. Pedro II, que vinha do Rio de Janeiro a Minas Gerais para impulsionar a economia local. Em 1878, a Estrada de Ferro Oeste de Minas (EFOM) foi formada com o grande objetivo de interligar a região ao Rio de Janeiro: foi a primeira sociedade anônima mineira dedicada a esse empreendimento.
Três anos após a criação da Companhia, o trecho inicial da EFOM foi inaugurado. Passava pelas estações de Sítio, Barroso, Prados, São José del-Rei (atual Tiradentes) e São João del-Rei. Finalmente, em 1894, chegou até Barra do Paraopeba. O evento contou com a presença do Imperador Dom Pedro II, da Imperatriz Dona Teresa Cristina e mais 800 convidados. As ruas de São João del-Rei foram decoradas com arcos de bambu, lampiões, flores e cipós. Entretanto, a festa foi cancelada devido ao falecimento, na véspera, do ministro da agricultura, Buarque de Macedo.
Após quase 20 anos em operação, a Estrada de Ferro Oeste de Minas decretou falência devido a dificuldades financeiras, o que resultou em sua encampação pela União em 1903. Por isso, na década de 1920, a sede da EFOM migrou da cidade de São João del-Rei a Belo Horizonte, que se tornou a nova sede.
O Ramal das Águas Santas foi construído para viabilizar o transporte de moradores e de frequentadores do Balneário das Águas Santas, além de circular a mercadoria produzida nas colônias de imigrantes italianos. Sua inauguração ocorreu em 1910, com duas estações: César de Pina e Águas Santas. O ramal tinha pouco mais de 11 quilômetros de extensão, com bitola de 76 cm. Esse ramal ferroviário ficou popularmente conhecido como o Trenzinho das Águas.
Em 1931, a Estrada de Ferro Oeste de Minas deixa de ser federalizada e passa a ser arrendada pelo governo de Minas Gerais. O governo mineiro era dono da EFOM, agora chamada de Rede Mineira de Viação Oeste (RMV-Oeste) e Rede Sul-Mineira (RMV – Sul), um conjunto de outras ferrovias no sul de Minas Gerais. Por meio de Decreto-Lei de setembro de 1938, foram unificadas as duas operações por motivos de administração e centralização das atividades exercidas. Assim, a ferrovia passou a se chamar Rede Mineira de Viação (RMV).
Em 1953, Juscelino Kubitschek, governador do Estado de Minas Gerais, interessado na expansão da rodovia no estado, acordou com o então presidente do Brasil, Getúlio Vargas, que a RMV seria devolvida à União. Assim, a RMV tornou-se responsabilidade do Ministério de Viação e Obras Públicas. Já em 1957, quando Juscelino Kubitschek assume a presidência do Brasil, foi criada a Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA), com a integração de diversas linhas férreas no país. A RFFSA se tornou uma empresa de capital aberto; o governo controlava 51% das ações.
A partir da década de 1960, com o aumento de outros meios de transporte, como o viário e os veículos automobilísticos, percebeu-se uma diminuição na importância das ferrovias para impulsionar o desenvolvimento econômico pelo público geral. Como resposta a essa transformação, iniciou-se um processo de extinção de linhas e ramais ferroviários que não fossem economicamente viáveis para o governo federal. Assim, em 1966, o Grupo Executivo para Substituição de Ferrovias e Ramais Antieconômicos (GESFRA) foi criado com o propósito de desativar os ramais.
Ao longo dos anos, a linha sofreu modificações e extinções. Começando em 1984, a maior parte da linha foi desativada, com exceção do trecho entre São João del-Rei e Tiradentes e o trecho entre Aureliano Coutinho e Divinópolis. O trecho unindo São João del-Rei a Tiradentes tornou-se uma atração turística, inicialmente, para passeios nos finais de semana e feriados. A partir desse momento, o trem passou a ser chamado de maria-fumaça.
Na década de 1980 surgiram movimentos pela preservação das ferrovias, como o Programa de Preservação do Patrimônio (Preserve) e o Setor de Preservação do Patrimônio Histórico Ferroviário (Preserfe). Diante desse contexto de mobilização pela preservação, em 1989 foi apresentado um pedido de tombamento junto ao Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Foi possível tombar como patrimônio cultural o trecho ferroviário entre São João del-Rei e Tiradentes, abrangendo uma extensão de 12 km. Assim, o complexo tombado compreende a Estação de São João del-Rei, o Museu Ferroviário de São João del-Rei, os galpões, as oficinas, a rotunda, o edifício com as locomotivas, a linha, os pontilhões e a Estação de Tiradentes.
Na década de 1991, começou uma busca por investimentos para o setor ferroviário e por um processo de privatização das ferrovias. Com o desmonte dos trilhos e a privatização em debate, o trecho entre São João del-Rei e Tiradentes correu o risco de interromper suas atividades. Diante disso, no mesmo ano, ocorreu uma manifestação popular na Estação de Tiradentes o possível término. Esse evento foi organizado pelo Movimento em Defesa do Trem, composto de diversas entidades culturais e da população. Com a pressão dos moradores e as decisões dos administradores, o trem não parou.
Em 1992, o presidente Fernando Collor criou um programa de desestatização, que incluiu a Rede Ferroviária para efetuar sua transferência ao setor privado. Em 1996, as malhas ferroviárias foram divididas em regiões e concedidas à iniciativa privada por meio de leilões. Diante disso, a Ferrovia Centro-Atlântica S.A (FCA S.A) passou a ser responsável por alguns trechos nos estados da Bahia, Minas Gerais, Goiás, Espírito Santo, São Paulo e Rio de Janeiro. Em 1999, a empresa mineradora Vale incorporou a FCA S.A. Em maio de 2011, a VLI é fundada e incorpora a FCA.
Em maio de 2024, a Estação Ferroviária de Tiradentes passa a abrigar o programa Estação de Memórias. O espaço de memória foi construído de forma colaborativa, com moradores e familiares de ferroviários que viveram o dia a dia da Estação Ferroviária em seu período de funcionamento como principal meio de transporte da cidade. O objetivo do projeto é preservar e difundir as memórias da Estação e do seu entorno.
