Mudar de estação

Você está aqui!

Estação Tiradentes

Tiradentes | MG

Embarque para um novo destino

HomeA parada da caixa dágua
A parada da caixa dágua
No trecho de Tiradentes a Prados foi construída uma caixa d’água de ferro no intuito de abastecer as locomotivas. Com o tempo essa caixa d’água tornou-se uma parada do trem e em torno dela surgiu uma comunidade, conhecida até hoje como Caixa d’Água da Boa Esperança. O trem teve papel fundamental de fortalecimento da economia local. Por meio do trem eram transportados leite e frutas produzidos na comunidade. Os produtos eram levados até a plataforma da parada de trem. Além disso, o local possuía uma guarita, onde armazenavam-se cargas e encomendas.

Caixa D’Água da Esperança

No caminho da estrada que um dia foi leito da linha férrea, entre as Estações de Tiradentes e Prados, o avistamento de uma Igreja azul dedicada a Nossa Senhora de Fátima indica a chegada ao distrito de Caixa D’Água da Esperança. Alguns metros à frente, seguindo pela mesma estrada, encontra-se aquela que inspira o nome do lugar, uma caixa-d’água de metal de cerca de cinco metros de altura, utilizada para abastecer as locomotivas que por ali passavam.

Foi construída por volta de 1913, alguns anos após o início das atividades da EFOM em Tiradentes. Ao lado da estrutura, há uma pequena plataforma de embarque e desembarque, feita de cimento e pedra, também remanescente da época. Algumas fotografias registram uma pequena edificação retangular à esquerda da plataforma que servia como guarita e também armazenava alguns produtos. Compondo esse cenário, os mais antigos se lembram das casas de turma em estilo eclético e de um luxuoso chalé que pertenceu à Baronesa de Santa Maria.

O Chalé do Barão e da Baronesa

A região, na zona rural de Tiradentes, começou a ser ocupada desde a Fazenda da Boa Esperança, pertencente ao Barão e à Baronesa de Santa Maria. Na fazenda havia pasto para criação de gado e plantações de cultivo diverso, principalmente de marmelo. A sede da fazenda era um chalé onde viviam o casal e seus filhos, que é popularmente chamado de “Chalé da Baronesa”.

Acredita-se que, por influência do Barão, a caixa-d’água e a plataforma foram instaladas próximas ao chalé, o que facilitaria o escoamento da produção da fazenda pelo trem de ferro. Por essa mesma facilidade, a parada da Caixa D’Água atraiu pequenos produtores rurais de leite e frutas que se instalaram nas terras férteis do seu entorno, formando, assim, um povoado, hoje reconhecido como distrito de Caixa D’Água da Boa Esperança.

Após a morte do Barão e da Baronesa, a fazenda foi perdendo sua influência, e o chalé foi demolido. No local ainda se encontram algumas de suas ruínas. Pedras, telhas, vidrarias e móveis do chalé foram distribuídos pela região, e há moradores que ainda os guardam em suas casas como relíquias.

A Esperança ganha um novo sentido

Apesar da Fazenda da Boa Esperança ainda estar presente nos relatos de memória e no imaginário dos moradores da Caixa D’Água, a “esperança” presente no nome do distrito ganhou novo sentido e nova narrativa com a atividade da ferrovia. Segundo a tradição oral, o maquinista precisava abastecer a locomotiva e muitas vezes não encontrava água nas estações e caixas-d’água do caminho, mas na caixa-d’água de Tiradentes sempre havia água. Por isso, aquela caixa-d’água simbolizava a esperança de abastecimento para que a viagem pudesse seguir como planejado.

O trenzinho que passava aqui

O trem cadenciava a rotina e preenchia o cotidiano das pessoas, que se lembram dele com afeto, constantemente referindo-se a ele como “trenzinho”. No apito da locomotiva ao longe, no vislumbre da fumaça por cima das árvores, no peso das caixas de frutas carregadas até a pequena plataforma de pedra, na espera pelo trem da manhã, no trem da noite que anunciava o fim do dia, o trenzinho se fazia presente na comunidade da Caixa D’Água.

Para o povoado rural afastado da cidade, o trem era a principal forma de acesso. Sem estrada para carros e caminhões, as formas de transporte alternativas ao trem eram a bicicleta e o cavalo. Chegar aos hospitais, escolas e centros comerciais era muito mais fácil pela ferrovia, assim como à venda da produção da região, baseada em leite e produtos derivados, como queijo artesanal, e frutas, como banana, laranja e limão, para centros urbanos, como São João del-Rei e Barroso.

Diversão da Caixa D’Água

O trem também estava associado aos momentos de encontro e lazer da população. A locomotiva permitia que os moradores da Caixa D’Água recebessem e visitassem familiares e amigos, além de ser um local de paquera para os jovens. Os jogos dos times de futebol também movimentavam a juventude: o Esperança Futebol Clube era a equipe formada por rapazes da Caixa D’Água. Era comum que fossem reservados vagões de trem para transportar os times e torcedores para outros municípios no caminho da linha da EFOM onde ocorreriam os jogos, como Barroso, Prados, Campolide e Padre Brito.

Uma estrada de esperança e de saudade

Apesar da saudade, muitos moradores da Caixa D’Água relatam as mudanças positivas ocorridas após a retirada dos trilhos. Com a abertura da estrada tornou-se possível viajar de carro, caminhonete e caminhão com mais dinamismo, sem depender do horário do trem, o que dava mais autonomia para os produtores e pessoas que precisavam acessar outras cidades.

Quando o trem de passageiros e cargas foi encerrado, o entendimento de parte da população era de que a rodovia viria para modernizar a lógica de transportes em todo Brasil.

Desativada a linha férrea em 1984, não só os trilhos foram retirados, mas a guarita da parada e a maioria das casas de turma foram demolidas, restando a caixa-d’água, a plataforma e uma casa de arquitetura ferroviária, hoje tombadas como patrimônio cultural de Tiradentes. Para valorizar essas estruturas que permanecem e a história que carregam, em 2013, ano do centenário da Caixa D’Água, um passeio ciclístico saiu de Tiradentes e percorreu o caminho da estrada até o povoado.

Por causa de uma pinga

“Tinha um boteco perto da parada da Caixa D’Água. Era uns 100 metros de distância, e o pessoal ficava ali esperando o trem. Esse boteco era muito conhecido. O pessoal vinha e descia pra beber cachaça. Um dia, quando eles estavam lá bebendo, um falou: “Uai, mas esse trem não vai passar?”. Na mesma hora o trem passou, mas veio muito rápido e não deu para eles pegarem. Aí tiveram que descer a pé até Tiradentes. Perderam o trem. A gente acha até graça, viu. Sofrimento é o deles né, por causa de uma pinga.”

Luiz Fonseca da Silveira, morador da Caixa D’Água da Esperança.

Dá saudade, não dá?

“E se o trenzinho voltar outra vez? Esse lugarzinho aqui acabou que parece que ficou mais sem graça sem ele, né? Dá saudade, não dá?”

Inácio Moreira de Paiva, morador da Caixa D’Água da Esperança.

Eco do tempo

“A gente daqui escuta apitando o trem da Maria-Fumaça chegando em Tiradentes. A gente escuta ainda.”

José Pedro do Nascimento (Seu Juca do Lino), morador da Caixa D’Água da Esperança.

40 anos do fim

“Essa linha de trem aí deve ter uns 40 anos que acabou. Eu lembro, porque foi quando um sobrinho meu nasceu. Ele tem a mesma idade do fim do trenzinho.”

Valdivino José de Paiva (Seu Nonô), morador da Caixa D’Água da Esperança.

A Caixa d’Água ficou

“Depois passou a vir de Barroso, já não ia em Antônio Carlos… foi indo até extinguir. Acabou tudo. Mas aí fizemos o requerimento na Prefeitura, na época eu até era vereador, para deixar a Caixa D’Água lá. Aí deixou.”

Luiz Fonseca da Silveira, morador da Caixa D’Água da Esperança.

Ou trem ou cavalo ou bicicleta

“Para o pessoal daqui a única condução que tinha era o trem de ferro. Era só. Trem de ferro, se não fosse o trem de ferro era o cavalo. Ou então bicicleta. Aí descia de bicicleta, beirando a linha. Até quando minha mulher ganhou criança ela começou a passar mal de manhã, e eu morava lá na beirada da estrada de ferro, sabe? Aí quando ela falou comigo que estava sentindo, o trem já tinha passado. Aí eu tive que levar ela na bicicleta até Tiradentes. De lá foi que eu arrumei uma condução para levar para o hospital em São João.”

Luiz Fonseca da Silveira, morador da Caixa D’Água da Esperança.

Da esperança

“Antes aqui chamava só Caixa D’Água. Aí os maquinistas puseram o nome Caixa D’Água da Esperança, porque se São João não tivesse água, se no Antônio Carlos ou se no Barroso não tivesse água, aqui a água nunca faltaria. Então ficou sendo Caixa D’Água da Esperança.”

Juscelino Raimundo de Paiva (Senhor Tito), morador da Caixa D’Água da Esperança.

Ele de São João, eu daqui

“Comecei a namorar com Inácio. Eu era de São João, ele era daqui, da Caixa D’Água. Aí a gente vinha de São João pra cá no trem, passeava aqui, depois ia embora. Ele ia lá em casa… A gente ia de trem pra lá e pra cá… passeando!”

Rosina da Silveira Paiva, moradora da Caixa D’Água da Esperança.

Limão da casca fina

“Uai, eu mesmo já vendi a banana. Doce também vendia, limão galego. Então eu vendia lá no trem. Limão da casca fina. Até peixe a gente vendia no trem; naquele tempo dava muito peixe no rio das Mortes.”

Luiz Fonseca da Silveira, morador da Caixa D’Água da Esperança.

Um bocado de leite

“Pois é, eu que recebia os leites lá, sabe? Aí eu que anotava, eu perguntava: Fulano, deu tantos litros; ele, tantos litros. E despachava o leite para Barroso. Era um bocado. Às vezes, tinha época que ia pra Prados, porque tinha outra fábrica de queijo em Prados e também levava um bocado. Não era muito também, não. Era uns 500 litros prum lado, 200 pro outro.”

Luiz Fonseca da Silveira, morador da Caixa D’Água da Esperança.

Marmita pré-jogo

“No tempo que eu jogava futebol viajava era no trem. Cê ia jogar no Barroso indo de trem de manhã e voltava de tarde. Eu tinha que levar marmita, também, porque chegava lá não tinha comida. Aí levava marmita.”

Ari Fonseca da Silveira, morador da Caixa D’Água da Esperança.

Compartilhe este conteúdo em suas redes sociais