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A estação César de Pina
A Estação César de Pina pertencia ao Ramal de Águas Santas, que foi inaugurado em 21 de agosto de 1911 e desativado em 1966. O objetivo da construção desse ramal era sobretudo conectar a cidade de São João Del Rei ao balneário das Águas Santas. A estação possibilitou a circulação de produtos agrícolas, sobretudo frutas, verduras e hortaliças, produzidos por imigrantes italianos moradores da Colônia do Marçal e Giarola, para serem comercializadas na cidade de São João Del Rei. No entorno da estação já houve edificações de escola, armazém, igreja e campo de futebol. Em 2007 a estação foi tombada e em 2023, ela foi restaurada.

A Estação César de Pina

Inaugurada em 21 de agosto de 1923, inicialmente foi chamada de Chacrinha; mais tarde, recebeu o nome em homenagem ao engenheiro Augusto César de Pina, o primeiro diretor da EFOM. Situada em terras anteriormente pertencentes à família Passarini, imigrantes italianos, a Estação foi um importante para o transporte de passageiros, mercadorias, minérios especiais e gado com direção a São João del-Rei. O edifício era composto de um armazém para guardar mercadorias que vinham de trem, uma agência de Correios e uma bilheteria. O trem operava em trilhos com uma bitola de 76 cm e foi desativado em 1966.

Posteriormente surgiu o Bairro César de Pina, que ficou conhecido até 1991 como Córrego das Pedras. Devido a seu estado de conservação precário, a Prefeitura Municipal de Tiradentes, por meio do Conselho Municipal de Políticas Culturais e Patrimônio, restaurou a Estação, que foi reinaugurada em 2023. A Estação César de Pina foi tombada por lei municipal em 2007.

Entorno da Estação César de Pina

A César de Pina era um ponto central para encontros de pessoas que moravam nos atuais bairros de São João del-Rei Giarola e Colônia do Marçal. Na década de 1960, o imigrante italiano João Domingos Longatti doou um terreno na região da estação para a construção de uma escola, com o objetivo principal de criar um espaço de estudo para seus próprios filhos. A escola atendia somente meninos, com duas salas de aula e alunos de diferentes idades. Nas proximidades, um armazém era utilizado para a comercialização de diferentes produtos, como embutidos, bebidas e doces. Ainda havia uma casa de cerâmica que produzia mercadorias para transporte e comércio no trem. Em frente à Estação, um campo de futebol reunia os moradores, proporcionando partidas de futebol de times da região. Aos domingos, a Estação tornava-se ponto de encontro e diversão dos moradores. Atualmente, no entorno da estação existem apenas as ruínas de uma casa religiosa e do armazém.

Imigração italiana

A chegada de europeus ao Brasil recebeu incentivos do governo português durante o reinado de D. João VI (1816-1822) em Portugal. Esse movimento migratório ganhou impulso com o fim do tráfico negreiro em 1850 e a abolição da escravidão, em 1888. As demandas por mão de obra e o projeto político de embranquecimento da população brasileira estimularam a vinda de trabalhadores europeus. A imigração italiana no Brasil teve seu auge entre o final do século 19 e começo do século 20.

Os imigrantes italianos encontraram oportunidades inicialmente na agricultura e se estabeleceram nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, onde formaram colônias. Em São João del-Rei e Tiradentes, famílias italianas como Giarola, Longatti, Passarelli, Lovatto e outras buscaram uma vida melhor nas terras brasileiras. A doação de lotes de terra ocorreu sobretudo na direção dos atuais bairros Colônia do Marçal, pertencente à cidade de São João del-Rei, e no bairro César de Pina, que pertence a Tiradentes.

As frutas dos Longatti

Em Tiradentes, os imigrantes italianos introduziram o cultivo de novos alimentos que ainda não existiam na região. A produção de hortigranjeiros, como mexerica, laranja, ameixa, maçã, pera, limão e outros cítricos em geral, passaram a se difundir na região da Estação César de Pina. A mexerica, em particular, ficou famosa pela produção e comercialização, principalmente graças à família Longatti. O responsável pela produção era João Domingos Longatti, conhecido por transportar e vender seus produtos em sua caminhonete, na cidade de São João del-Rei e nas proximidades das Estações César de Pina e Águas Santas. A Estação César de Pina cumpriu a importante função de conectar as pessoas e a produção local a São João del-Rei.

Sobrando gente

“Lá na Itália estava sobrando gente. Aí eles botaram no navio aquele tanto de gente para vir embora, que são os imigrantes. A viagem na época se fazia de navio e durava três meses para chegar no Brasil. As mulheres também tinham que trabalhar dia e noite. A comida que saía de lá era para três meses.”

Ivone da Conceição Longatti, moradora do bairro Colônia do Giarola de São João del-Rei.

Ocupação intensa

“Na verdade, tinha era uma área de produção agrícola, né? Então toda produção ia no trem pra abastecer São João del-Rei. Milho, feijão, verduras, as hortaliças todas, né? Aquela ocupação italiana foi muito intensa – tanto é que tem os Longatti produzindo até hoje. Alguns ainda são produtores rurais.”

Luiz Antonio da Cruz, professor, pesquisador e morador de Tiradentes.

Nova ocupação

“Eles vêm no século passado. E ali tudo no início estava muito vinculado a essa nova ocupação. No início é basicamente ocupação agrícola. Depois é que eles vão tendo outras atividades. E eles se espalharam. Os italianos hoje estão em diversos lugares, e inclusive muitos moram em Santa Cruz de Minas. Aí tinha uma ramificação do trem que ia até lá.”

Luiz Antonio da Cruz, professor, pesquisador e morador de Tiradentes.

Frutas e hortaliças

“Quem abastecia São João era a colônia de italianos, porque a cultura italiana era mais evoluída e havia tradição no cultivo de frutas e hortaliças. Em 1888, os imigrantes italianos vieram pra cá, para a região de Tiradentes e São João del-Rei, mais ou menos, em torno de umas cem famílias.

Padre Ademir Sebastião Longatti.

Mexerica no barbante

“Eu fazia a penca de mexerica e pegava uma. Pegava lá um cepo de madeira, assim, da espessura de um calibre, e amarrava embaixo uma cordinha, um barbante forte, e um ficava segurando, rodando; o outro ficava segurando o barbante e prendia a mexerica ali; rodando e prendendo, e aquela penca ia crescendo. Ficava lindo, aí vendia aquela penca pra quem estava passeando aqui na Avenida em São João no domingo de manhã. Então a gente levava mexerica no bornal, não tinha bolsa assim, era bornal.”

Padre Ademir Sebastião Longatti.

Uma maçãzinha ácida

“Quando os italianos vieram, eles trouxeram o hortifrutigranjeiro. Nós não conhecíamos o tomate, a beterraba, cenoura… a gente conhecia abóbora. A gente conhecia abóbora e couve, um pouco de mandioca. Aí quando vieram os italianos, eles trouxeram tudo isso, trouxeram ameixa, a mexerica, uma maçãzinha ácida, azeda, ácida mesmo, trouxeram a maçã também.”

João Bosco Barbosa, aposentado, filho de Chefe da Estação de São João del-Rei.

Transporte de cargas na Estação César de Pina

No trajeto que ligava São João del-Rei a Águas Santas, passando pela Estação César de Pina, o trem era composto de diversos tipos de vagões. A Estação serviu como ponto importante de comércio. Além dos vagões de passageiros de primeira e segunda classes, havia um vagão destinado aos Correios, utilizado para a distribuição e entrega de encomendas. Também eram utilizados vagões de carga para o transporte de manganês, gado e cavalos.

Além da carga, a Estação era ponto de partida para os moradores que pegavam o trem para diversas finalidades: os jovens utilizavam o trem para ir à escola, seja próximo a César de Pina ou em São João del-Rei. Os moradores também utilizavam o trem frequentemente para se deslocarem até Águas Santas, onde ocorria missa uma vez por mês na Capela de Nossa Senhora da Saúde.

Namoro no trem

“Comecei a namorar meu marido aqui no trem. O trem passava pra ele ir trabalhar na Siderúrgica Fluminense, e eu ia na casa da minha irmã, lá na cidade. Aí ele descia e ia pra Siderúrgica, e eu ia mais, até a César de Pina. Depois o papai viu que nós estávamos assim, meio quente e deixou a gente namorar.”

Ivone da Conceição Longatti, moradora do bairro Colônia do Giarola de São João del-Rei.

Vinte mil quilos de minério

“O que eu lembro da César de Pina era que havia muito minério especial que eram enchidos nos vagões. Uma vez aconteceu que o monte de minério ficou longe do vagão e eles queriam arredar o vagão para frente. Só que o vagão já estava com vinte mil quilos, aproximadamente. Quando eles desapertaram o freio do vagão, ele começou a descer. Eles não conseguiram pará-lo na curva, logo abaixo, e ele tombou.”

Padre Ademir Sebastião Longatti.

O point

“A Estação César de Pina era o point, ali que era o lugar de encontro. Então dali vinha gado, milho, arroz, feijão que era produzido na região. Os trens levavam para São João e de lá levavam pra outro lugar.”

Padre Ademir Sebastião Longatti.

Rapadura e pinga

“O que era produzido em Coroas, por exemplo, que é pertinho de César de Pina, naquele tempo não era produzido em César de Pina. Então era novidade, a rapadura, o açúcar preto. A gente quando era criança adorava comer doce porque era gostoso. Os homens gostavam muito de pinga. Aqui em César de Pina não tinha pinga, não produzia. Então a pinga era de Coroas.”

Padre Ademir Sebastião Longatti.

Campo cheio

“Dia de domingo todo mundo ia lá e falava: vamos passear lá, ver o trem. Aí vinha o trem e todo mundo ia ver, mas tinha que ter gente junto. De frente da Estação tinha um campo de futebol, coisa mais linda, mas era cheio de gente.”

Ivone da Conceição Longatti, moradora do bairro Colônia do Giarola de São João del-Rei.

Pra ver as canelas

“Tem uma história pitoresca que eu estou lembrando que o vovô me falava. Isso aí foi em 1912, 1915, no máximo. O vovô falava que em dia de domingo a gente ia pra Estação, porque dia de domingo na parte da tarde era livre, na parte da manhã tinha que trabalhar. Na parte da tarde meu bisavô dava folga. Não estou falando da minha família só não. Os outros também eram assim. Na folga, o vovô adorava ir para Estação aà tarde: ‘Ah, mas por quê, vovô?’ Ele olhava para ver se não tinha ninguém e falava: ‘Pra ver a canela das mulheres’”.

Padre Ademir Sebastião Longatti

Rádio do Chefe

“Era uma parada em César de Pina. Nessas paradas a Estação era sempre muito limpinha, muito varridinha, o trilho era muito bem varrido, e aí a ​​gente sentava na plataforma, tinha rádio, uma emissora, sabe? Esse rádio é da casa do Chefe da Estação, mas ele punha aquele som ali, e a gente ficava escutando.”

João Bosco Barbosa, aposentado, filho de Chefe da Estação de São João del-Rei.

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