Preserve
O Preserve – Programa de Preservação do Patrimônio Histórico dos Transportes – foi criado em 1980 pelo Ministério dos Transportes. Seu objetivo era preservar o “acervo histórico da evolução tecnológica dos meios de transportes no Brasil, especialmente as atividades de localização e identificação de documentos e peças de valor histórico e artístico e as de promoção da recuperação e restauração de material e construções para a memória do Setor”. O órgão foi responsável, em 1981, por catalogar e documentar o complexo de São João del-Rei, um movimento de preservação devido ao seu caráter excepcional. Isso impulsionou a mobilização social a favor da futura patrimonialização do complexo.
OFICINAS OPERATRIZES
PRESERVE, 1986. Acervo PRESERVE.
MUSEU FERROVIÁRIO
PRESERVE, 1986. Acervo PRESERVE.
ESTAÇÃO DE SÃO JOÃO DEL-REI
PRESERVE, 1986. Acervo PRESERVE.
O tombamento do trem de São João
Há muitos anos a comunidade já expressava o desejo de tornar o trecho entre São João e Tiradentes um Patrimônio Histórico e Cultural. O tombamento seria uma forma de preservar um bem tão importante para a cultura local e para a história o país. O primeiro pedido, que incluía os 102 km de linha que conectavam São João del-Rei até a estação de Antônio Carlos, foi negado pela extensão. Um novo pedido foi feito, considerando os 12 km até Tiradentes, as três estações do trecho (São João del-Rei, Chagas Dória e Tiradentes) e todo o Complexo Ferroviário, incluindo a locomotivas. Em 1989, o Complexo entrou para o Livro do Tombo Histórico com a inscrição n. 528, de 3 agosto de 1989, e para o Livro do Tombo de Belas Artes n. 596, de 3 de agosto 1989. A inclusão considerava que esse bem cultural exemplificava, de forma excepcional, os tipos de construção da era industrial brasileira, bem como apresentava uma coleção singular de locomotivas tipo Baldwin, não encontrada em outros locais.
Ferrovia como patrimônio
O tombamento do Complexo Ferroviário da cidade teve grande importância no cenário do patrimônio brasileiro. Por muito anos, os órgãos responsáveis pelos tombamentos se preocuparam com edificações mais antigas, normalmente do período colonial do Brasil. Porém, a partir de discussões do campo do patrimônio na segunda metade do século 20 e da demonstração do valor social do acervo ferroviário, por exemplo, surgiram novas demandas de salvaguarda. Nesse novo contexto, foram progressivamente incluídos edificações e acervos ligados ao patrimônio ferroviário e industrial. Com as constantes ameaças a esses patrimônios, a necessidade de protegê-los tinha caráter emergencial. Foram essas condições, somadas à mobilização social, que possibilitaram a inscrição do Complexo Ferroviário de São João del-Rei foi no Livro do Tombo, em 1989.
“Não tenho foto do movimento, vê que dó. Nós, eu, e as crianças do Catavento, que era minha escola, todos de uniforme andando até Tiradentes. Aí, colocamos uma faixa, ‘Não acabe com o trem!’. Fizemos passeata, aquele dia ensinamos também o sentido da passeata para as crianças.”
Relato de Maria Lucia, professora aposentada e moradora da cidade
“A ideia, na época, era parar tudo. Transformar isso aqui em rodoviária ou em estacionamento, não sei. Era acabar com tudo. A população reagiu na época, comprou essa briga e manteve o trem.”
Relato de Alexandre Campos, inspetor de tração e maquinista
O patrimônio ferroviário para o IPHAN
Em 2007, foi instituído pelo Decreto n. 6.018/2007 e pela Lei n. 11.483/200 que o IPHAN seria responsável por administrar os bens móveis e imóveis de valor artístico, histórico e cultural antes pertencentes à RFFSA. O patrimônio ferroviário, porém, tinha uma especificidade em relação aos demais: era composto também por máquinas que podem circular, se movimentar. Em função dessa particularidade, um novo instrumento de proteção foi criado: a valoração, que se refere apenas aos bens da extinta RFFSA. Atualmente o IPHAN é responsável pela preservação de um número extenso de estações, locomotivas e material ferroviário em geral, e promove um trabalho de pesquisa e difusão desse abrangente acervo, feito pela Coordenação Técnica para o Patrimônio Ferroviário.
Reconstrução da rotunda
Um dos momentos mais expressivos relacionados à proteção do patrimônio ferroviário na cidade foi a reconstrução da rotunda. O trabalho foi feito em 1983, com o auxílio de vários ferroviários, demonstrando quão representativa ela é para São João. Logo, tornou-se um espaço visitável onde está exposta a coleção de locomotivas e vagões pertencentes ao município.
RECONSTRUÇÃO DA ROTUNDA
Autoria desconhecida, década de 1980. Arquivo pessoal de Gustavo Zenquini.
RECONSTRUÇÃO DA ROTUNDA
Autoria desconhecida, 1984. Acervo NEOM ABPF.
Centenário da EFOM
Em julho de 1981, a Estrada de Ferro Oeste de Minas completou 100 anos de sua inauguração. Em comemoração, uma série de mudanças foram iniciadas no espaço do Complexo Ferroviário. Nos anos anteriores, a Estação já enfrentava a diminuição da demanda de trens e vinha recebendo restaurações e modificações. A principal mudança foi a retirada do prolongamento da linha e da casa do chefe de Estação para a construção e inauguração da Praça dos Ferroviários. Outra ação importante foi a organização e construção do primeiro Museu Ferroviário do Brasil, que ocupa o espaço que antes abrigava um dos antigos armazéns da Estação e a rotunda. Esse conjunto de ações demonstrou o interesse da cidade em manter e divulgar seu patrimônio ferroviário e o marco que a Estrada de Ferro Oeste de Minas representou para São João e seu desenvolvimento.
EM SÃO JOÃO DEL-REI, UMA FERROVIA CENTENÁRIA E AINDA EM USO
O Globo, data desconhecida. Arquivo pessoal cedido por Gustavo Zenquini.
MINISTRO ELISEU RESENDE E GOVERNADOR FRANCELINO PEREIRA NA INAUGURAÇÃO DA PRAÇA DOS FERROVIÁRIOS
Revista Manchete, 1981. Arquivo pessoal cedido por Gustavo Zenquini.
CONSTRUÇÃO DO MUSEU FERROVIÁRIO
Autoria desconhecida, 1981. Arquivo pessoal de Gustavo Zenquini.
O Museu do Trem de São João é inaugurado!
A inauguração do Museu Ferroviário de São João del-Rei foi um marco na preservação do patrimônio ferroviário. Sua inauguração, em conjunto com a da Praça dos Ferroviários, ocorreu em 1981, durante a solenidade do centenário da EFOM. Sendo um dos primeiros museus ferroviários do país, o espaço se dedica a abordar a história do trem de ferro e destaca a importância da EFOM para o desenvolvimento do estado. Seu acervo conta com peças singulares de aparelhagem ferroviária, como lanternagens, telégrafos, mobiliário, ferragens etc. Entretanto, seu maior destaque é a exposição de locomotivas e vagões, dispostas na plataforma e na rotunda. A mais notável é a locomotiva número 01, que conduziu Dom Pedro II ao evento de inauguração. Ao longo dos anos, o museu tem se consolidado como um local de aprendizado para os visitantes que se deslocam de várias partes do país, e até do mundo, para visitar a maria-fumaça e experienciar a viagem no trem mais antigo em operação contínua no Brasil.
“A quantidade de americanos e ingleses que vinham aqui para ver as locomotivas… vinham não, ainda vêm! Pois até hoje quando eu passo pela Estação eu vejo muitos descendo para pegar o trenzinho. Eles são apaixonados pela ferrovia. Como trabalhávamos na ferrovia, tínhamos contato com os estrangeiros. A gente via aquela empolgação deles ao ver as máquinas, chegavam na rotunda, que tem aquela coleção, eles ficavam doidos.”
Relato de José Paiva, policial ferroviário aposentado
INAUGURAÇÃO DO MUSEU FERROVIÁRIO E DA PRAÇA DOS FERROVIÁRIOS
Revista Manchete, 1981. Arquivo pessoal cedido por Gustavo Zenquini.
LEGENDA: Na manchete no jornal, é descrito que o Museu Ferroviário de São João del-Rei seria o primeiro museu do trem no Brasil. A informação, no entanto, é equivocada, já que o Museu do Trem ou Estação Central Capiba já havia sido inaugurado nove anos antes, em 1972, na cidade de Recife, Pernambuco.
Trem, afeto e cultura
O trem de São João, mais conhecido como a maria-fumaça, não ficou marcado apenas por sua função como meio de transporte, mas também como um marco visual e cultural na cidade e no Brasil. Encontramos sua imagem em vários lugares, de todas as formas possíveis: fotos, jornais, novelas, minisséries. A maria-fumaça está por toda parte e nos convida a refletir: a quem realmente pertence? Para além das empresas que carregam consigo os nomes dos fundadores e acionistas, o trem pertence também àquelas pessoas que compartilham com ele suas histórias e memórias; pertence à história e à memória coletiva da cidade. O trem vai se tornando parte de cada uma e cada um que se dispõe a parar, olhar para ele e escutá-lo mais atentamente.
LOCOMOTIVA 41 E OS TRAPALHÕES
Autoria desconhecida, data desconhecida. Arquivo pessoal de José Luiz.
LOCOMOTIVA 21 ILUMINADA PARA O NATAL
Autoria desconhecida, data desconhecida. Arquivo pessoal de Gustavo Zenquini.
PALHAÇOS EM APRESENTAÇÃO NO 25º INVERNO CULTURAL
Junior Viegas, 2012. Arquivo pessoal de Gustavo Zenquini.
Trem turístico: amor e luta pela preservação
Um dos grandes dos grandes motivos pelo qual o trem de São João se mantém em funcionamento até os dias de hoje é a resistência da população, que permanece alerta e combatente frente às ameaças que a maria-fumaça sofre desde o século passado. Com manifestações, abaixo-assinados e denúncias, a proteção do Complexo Ferroviário e de seu patrimônio se deu muito pela vontade dos cidadãos de proteger parte de sua memória. Até quando houver pessoas que se encantam ao ver a maria-fumaça saindo pelo pátio, seu amor e sua dedicação darão sentido à preservação e ao funcionamento do trem.
Nos últimos 40 anos, a maria-fumaça, que inicialmente tinha o objetivo de chegar até o Rio de Janeiro, percorre apenas os 12 km que separam São João del-Rei e Tiradentes. Apesar da curta distância, ela segue como uma lembrança viva do nosso trem a vapor centenário, atraindo pessoas de todo o Brasil e do mundo.
OS SÃO-JOANENSES NÃO PERDERAM ESSE “TREM”
Associação Comercial e Industrial São João del-Rei, julho de 1997. Arquivo pessoal de Antônio Giarola.
Escrito do Movimento de Defesa do Trem sobre a organização das manifestações em São João del-Rei, Tiradentes e no Rio de Janeiro.
Movimento de Defesa do Trem, março de 1991, Acervo IPHAN Tiradentes.
FÔLDER DE DIVULGAÇÃO DO TREM TURÍSTICO
RFFSA, década de 1990. Arquivo pessoal de Ramon Coelho.
GENTE NO TREM
PESSOAS COM LOCOMOTIVA 1 EM SÃO JOÃO DEL-REI
Autoria desconhecida, 1920. Arquivo pessoal de Gustavo Zenquini.
LOCOMOTIVA 42 EM PADRE BRITO
Autoria desconhecida, data desconhecida. Arquivo pessoal de Gustavo Zenquini.
LOCOMOTIVA 21 NO PÁTIO DE SÃO JOÃO DEL-REI
Autoria desconhecida, 1981. Arquivo pessoal de Gustavo Zenquini.
PASSAGEIROS NA ESTAÇÃO DE IBITUTINGA
Autoria desconhecida, 1949. Arquivo pessoal de José Expedito Assunção.
FAMÍLIA COM A LOCOMOTIVA 36 EM ÁGUAS SANTAS
Autoria desconhecida, 1959. Acervo pessoal de Ana Maria de Freitas.
PASSAGEIROS E CHEFE DE TREM
Autoria desconhecida, 1981. Arquivo pessoal de Gustavo Zenquini.
JOVENS COM LOCOMOTIVA 41 EM SEVERIANO RESENDE
Helvécio Rodrigues, data desconhecida. Arquivo pessoal de Gustavo Zenquini.
JOVENS NO ÚLTIMO VAGÃO DO TREM
Autoria desconhecida, data desconhecida. Arquivo pessoal de Gustavo Zenquini.
JOVENS NO ÚLTIMO VAGÃO DO TREM
Autoria desconhecida, data desconhecida. Arquivo pessoal de Gustavo Zenquini.