Expresso da Folia
“Teve uma viagem que eu fiz quando o trem já estava quase parando com o transporte de passageiro. Eu fui pra Bocaiuva no Carnaval com meu filho e na hora que eu entrei dentro do expresso, às 7 horas, uma mulher falou pra eu correr, porque não tinha mais lugar de sentar, aí eu corri. E quando chegou em Vespasiano entrou um pessoal com uma bateria, eu entrei no meio deles e peguei um instrumento e a gente tocou essas marchinhas antiga tudo, Aurora, Andorinha, aquela que fala da flor e chegando em Buenópolis quase que esse pessoal me arrasta pra ir com eles.”
Manoel Flavio, morador de Santa Luzia, que frequentava a estação.
Seu Lima, me dá uma carona?
“Quando minha família mudou para Santa Luzia eu fiquei três meses para trás para terminar a escola e tirar o diploma lá em Vespasiano. Mas toda semana eu vinha para cá, pedia o Seu Lima, maquinista que ia buscar pedra lá, pra vim sentadinho lá com ele. Eu não tinha dinheiro, mas tinha que vir visitar papai. A equipe que trabalhava aqui na época na estação era Demóstenes Mello, Quinho Massara, Pilão e Carlos. Os guarda chave eram Seu Paulino, Tião Pereira, Antônio Braz e Cezario.”
Manoel Flavio, morador de Santa Luzia, que frequentava a estação.
Passei da estação
“Tô lembrando aqui de um caso, eu tinha uma irmã que morava em Matozinhos, o marido dela também trabalhava na Estrada de Ferro Central do Brasil. Eu fui visitar ela de trem e na hora de voltar para cá eu dormi e passei direto, fui parar lá em General Carneiro. Minha sorte é que eu tenho uma prima que morava lá pertinho da estação e eu fui para a casa dela, cheio de sacola que vinha trazendo da casa da minha irmã. Voltei no outro dia cedo e cheguei aqui no primeiro trem da manhã.”
Marcelo Braz, filho de ferroviário e morador de Santa Luzia.
Viagens de família
“A gente adorava andar de trem, mesmo depois de adulta. Meus avós maternos moravam em Belo Horizonte, então minha mãe nos reunia e pegava o trem aqui de manhã, descia na Praça da Estação, ia a pé até a Rua Goitacazes. A gente passava o dia lá e voltava para pegar o trem a tarde, era o nosso meio de transporte.”
Lesia Jamil, moradora de Santa Luzia, que frequentava a estação.
Entre Estações e Refeições
“Meu pai era guarda-chaves da estação, então eu fui criada na beira da linha mesmo […] quando ele trabalhava em outra estação, no outro bairro, a gente pegava carona nos trens, na Maria Fumaça, pra levar almoço pra ele. A gente ficava um pouco lá e voltava de Maria Fumaça. Então a gente vivenciou bastante coisa.”
Marli Braz, filha de ferroviário e moradora de Santa Luzia.
O trem azul que subia pro Norte
“Eu também consigo guardar um pouco de memória, ainda lembro das últimas viagens do trem azul. O trem que subia a noite. Ele passava, e como era trem de passageiro, a luz acesa do interior [do vagão] chamava atenção. Eram as últimas viagens do trem azul que subia pro Norte.”
Adalberto Andrade Mateus, neto de ferroviário e morador de Santa Luzia.
A família na ferrovia
“Meu pai João Batista Gomes e meu avó Cassimiro Gomes. Meu avô aposentou na rede ferroviária, meu pai também trabalhou lá até quando ele morreu, e ele morreu novo, mas sempre trabalhou na rede ferroviária. E era bom que a gente andava de trem de graça pra baixo e pra cima, já fui pra Curvelo, pra tudo quanto é lado. Cheguei até a andar nessas Maria Fumaça, época muito boa.”
Robson Gomes, filho e neto de ferroviário, morador de Santa Luzia.
Entre Estações e Refeições
Naquele tempo a gente não saía muito não. Mas sempre que meu pai passava pra estação de Capitão Eduardo […] a gente pegava carona na Maria Fumaça pra levar almoço pra ele lá. Depois a gente voltava de carona também, mas assim, de fazer viagens a gente não era de fazer não. Eu circulava por aqui mesmo.
Marialba de Melo, filha de ferroviário e moradora de Santa Luzia.
Estação de encontros e passagem
Uma saudade dessa época é de vim para a estação e ver os carros, os passageiros passar. Cê via tanta gente diferente, criança, adultos, era uma coisa boa, viu. Ah tinha um carro só de restaurante, as pessoas comendo, aí já passava o outro lá com o povo só dormindo, isso fica nas lembranças da gente, as luzes do trem era uma coisa que não tinha nada parecido na cidade nessa época.
Marialba de Melo, filha de ferroviário e moradora de Santa Luzia.
A Caixa d'água da ferrovia
Naquela época tinha a Maria Fumaça, eu andava muito nela, adorava. Eu já fui até Pedro Leopoldo de Maria Fumaça. Porque mãe morava na beirada da linha e conhecia todas as pessoas que trabalhavam. A gente buscava água dela também, ela tinha um negócio grandão de baixo. E ela era movida a carvão de pedra, aí esquentava a água. E antigamente não tinha chuveiro, a gente ia lá buscar água quentinha pra tomar banho, era limpinha. E isso era naquela caixa d’água perto da estação, são duas, a primeira era só pra encher a Maria Fumaça, a outra que as pessoas pegavam a água lá.
Maria da Conceição, filha de ferroviário e moradora de Santa Luzia.
Panelas a venda!
Minha mãe mesmo, quando ela pegava o trem, ela ia era vender panela, ia pra Raposos, Sabará e ia sempre de trem. A gente ia achando bonito a vista, olhando a janela do trem. E depois saia carregando as panelas pela cidade.
Maria Geralda, filha de balaieira.