A localidade que hoje chamamos de Pedro Leopoldo já foi habitada por animais enormes e por grupos humanos que fizeram das grutas e cavernas da região o seu abrigo.
Olá! Meu nome é Luzia, e eu vivi nesta região há mais de 12 mil anos. Venham comigo em uma viagem pela fascinante história deste lugar!
No Parque Estadual do Sumidouro encontram-se dois elementos naturais reconhecidos por seu valor arqueológico e paisagístico: a Lapa e a Lagoa do Sumidouro. O grande valor das riquezas naturais, geológicas e arqueológicas da região, ajudou a delimitar a Área de Proteção Ambiental (APA) Carste de Lagoa Santa. Sua extensão inclui a cidade de Pedro Leopoldo e alguns municípios vizinhos, como Lagoa Santa, Matozinhos e Funilândia.
Ser uma região cárstica significa que, há 40 milhões de anos, havia um oceano por aqui. As grutas e cavernas que vemos hoje, um dia já foram o fundo do mar. A formação calcárea dessas rochas é o que permite a existência de uma infinidade de canais subterrâneos formando um “sumidouro”, palavra que deriva do termo indígena “Anhanhonhacanhuva”, e significa “água parada que some no buraco da terra”.
Lapa do Sumidouro com inscrição rupestre. Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais, 2017. Acervo do IEPHA-MG.
Lagoa do Sumidouro. Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais, 2017. Acervo do IEPHA-MG.
Quais histórias as rochas podem nos contar?
As lapas eram abrigos utilizados por nossos ancestrais pré-históricos como locais de moradia, refúgio ou para a realização de atividades cotidianas. Esses espaços são especialmente importantes porque preservam registros valiosos da vida no passado. Dentro das lapas, arqueólogos encontraram ferramentas feitas de pedra lascada, restos de alimentos e fósseis de animais, revelando o que alguns grupos humanos comiam e quais ferramentas utilizavam para caçar. Também são encontradas pinturas rupestres, uma forma de expressão utilizada por nossos ancestrais.
Os primeiros grupos humanos da região
Entre 1835 e 1845, o naturalista Peter Lund fez descobertas significativas na região. O dinamarquês encontrou fósseis de animais extintos,datados em cerca de 13.000 anos, além de um conjunto de trinta esqueletos humanos que possibilitaram a identificação do grupo conhecido como Homens de Lagoa Santa.
Vestígios da megafauna
Entre as contribuições de Peter Lund para a história natural dessa região, destacam-se os vestígios arqueológicos encontrados no Sítio da Lapa Vermelha, que apontam para a existência de animais da megafauna. Ali foram descobertos fósseis de mastodontes, toxodontes, grandes tatus, ursos de cara curta, macrauquênias e tigres-dentes-de-sabre. Esses animais habitaram a área entre 10 e 12 mil anos atrás. No tempo geológico, aquele que serve para calcular a idade do planeta Terra desde a sua formação, damos a esse período o nome de Pleistoceno.
O fóssil de Luzia é encontrado
Em 1974,aarqueóloga Annette Laming-Emperaire liderou uma equipe que localizou na área que hoje compreende a cidade de Pedro Leopoldo o fóssil mais antigo já encontrado na América do Sul. Posteriormente chamado de “Luzia“, esse fóssil foi datado de aproximadamente 12.500 a 13.000 anos, oferecendo uma visão valiosa sobre os primeiros habitantes do continente.
O patrimônio arqueológico em perigo
Em 02 de setembro de 2018, o Museu Nacional do Rio de Janeiro foi atingido por um incêndio que destruiu 85% do seu acervo. Os fragmentos do crânio de Luzia foram encontrados em meio aos escombros, e cerca de 90% do fóssil já foi identificado pela equipe de arqueólogos que atua na reconstrução do Museu.
Você sabia?
Existe uma diferença entre os termos normalmente usados para fazer referência aos primeiros grupos humanos que habitaram o planeta. A nomenclatura utilizada está de acordo com as descobertas científicas mais recentes no campo dos estudos da genética.
Usamos o termo HOMINÍDEO quando nos referimos ao grande grupo dos primatas, que inclui gorilas, chimpanzés, orangotangos e humanos modernos.
Já o termo HOMINÍNIO é usado para especificar os seres humanos modernos e seus ancestrais diretos e mais próximos, como os Australopithecus, Homo erectus, Homo habilis, e outras espécies extintas do gênero Homo. Os “Homens de Lagoa Santa” fazem parte da espécie Homo sapiens, compondo o grupo de hominínios que habitaram essa região no período da pré-história.
Réplica do fóssil e reconstituição do crânio de Luzia, que fazia parte do acervo do Museu Nacional do Rio de Janeiro. Autoria desconhecida, século 21. Acervo da Secretaria de Cultura, Lazer e Turismo de Pedro Leopoldo.