Neide Pereira
“Quem procura por Neide deve seguir o brilho das fantasias a iluminar as ruas, os arranjos de boa música ou até mesmo os desfiles que pareciam ter saído diretamente da TV… Por lá você a encontra.”. Era assim que me conheciam!
De tanto gostar de festas, teatros e bailes, tornei-me a principal agitadora cultural da história de Matozinhos. Sempre fui elogiada pela minha elegância, afinal, nunca saí de casa sem engomar as saias. Mas o que me dava o maior prazer era ver a alegria e o encantamento das pessoas, pequenas e grandes, diante das formaturas, dos carnavais, dos desfiles de Sete de Setembro, das festas de São Cristóvão e do Jubileu. Cheguei até a ser presidente do Itamaraty Club, um dos espaços mais badalados da região. Trouxe personalidades como Nelson Gonçalves, Elke Maravilha e Cauby Peixoto, e o programa Mineiros Frente a Frente, da antiga TV Itacolomy, do qual fui apresentadora. Também ocupei a câmara, como a primeira vereadora eleita por aqui.
Não é difícil perceber que eu tenho muito gosto pelas surpreendentes histórias dessa cidade, e é com muita honra que vou conduzi-lo/as por elas! Vamos explorar os causos que corriam pela Estação, seja no footing da praça, pegando de empréstimo o telégrafo da Estação, escrevendo nos bilhetes de trem ou escondendo recadinhos nos bolsos dos agentes.
Vai ficar de fora dessa?
Versos e poesia
Ao longo do tempo, o barulho ritmado das locomotivas, as despedidas e chegadas nas estações de trem, inspiraram a criação de artistas e poetas. Veja aqui algumas poesias e trechos de livros e músicas, inspirados no trem.
“Lembranças eu tenho da estação de trens na minha Estação até o ano de 2006.
Bem em frente à nossa casa meu olhar sempre se dirigia a ela com o coração apertado.
Triste vê-la em plena decadência.
Mas inúmeros vagões ainda passavam, às vezes, até faziam manobras provocando um leve tremor nos vidros das janelas da nossa casa e remexendo as minhas memórias…
Lembrava dos vagões que passavam pertinho das Escolas Reunidas “Santa Terezinha”. Escola onde fiz meu curso primário.
A D. Salomé tinha que interromper as explicações e nós, seus alunos, gostávamos de repetir a onomatopeia: “café com pão, café com pão, café com pão, manteiga não!”
Outras vezes, ela nos convidava para ir a sua casa um pouco distante do outro lado da linha.
Aquele bando de meninos pela linha afora pulando os trilhos, batendo as mãos nas ervas cidreiras da beira para sentir o cheiro, catando pedrinhas, colhendo voadeiras para oferecer à querida professora na chegada.
Ela de charrete pela Rua do Sapo!
Só felicidade!
Divertido também era ir à casa de Tia Maria em Lagoa Santa. Lagoa Santa?
Sim. Nós íamos com Tia Petrina de trem até Vespasiano. Quando o vagão vinha com poucos passageiros, íamos cada um sentar perto de uma janela para apreciar as paisagens.
Uma delícia a casa da tia, mas ficávamos ansiosos pela viagem de volta.
Meu irmão Dalton me conta que com sua turma iam todo dia na estação esperar o Noturno só para perguntar aos passageiros pousados na janela.
— Para onde você vai?
Bem diversificadas as respostas. Eles colecionavam os nomes. Cada dia mais longe…
Pedra Azul… Salvador…
Até que um dia deram com um passageiro:
—- Para onde o senhor vai?
—– Para Cabedelo. Paraíba.
Fim de linha.
Foi como encontrar a figurinha mais difícil do álbum!
Parece besteira, mas marcou tanto a adolescência do meu irmão que ele após muitos anos foi passear na Paraíba. Em João Pessoa conversou com um taxista e esse o levou até Cabedelo. Queria conhecer o fim da linha!
Meu irmão Celso arrumou uma namorada em Cordisburgo. Simples para ele ir só de trem namorar…
Em Matozinhos, diz ele, quando não tinha nada de muito importante pra fazer, ia com outros amigos dar “uma volta ” até Montes Claros. Uma farra a viagem de ida e volta. Isso bastava.
Um programaço!
Lembro também da minha irmã Tarcila com marido e filha vindo e voltando para Sete Lagoas.
Bom demais esperá-los na plataforma da estação.
Saudades do som do sino lembrando as chegadas e saídas.
Saudades de ver as mocinhas um pouco mais velhas do que eu namorar na estação, flertar com os rapazes de fora da cidade, ou, simplesmente, passear na plataforma de pedras largas sempre limpinhas.
Sei que os trens começaram na minha família por transportar o milho cultivado por meu avô Desidério para muitas regiões de Minas. Até para São Paulo e Rio de Janeiro.
A estação que o incentivou a comprar uma casa recém-construída bem pertinho dela.
Estação de trem.
Estação de lembranças.
Estação de saudades…”
Maria de Lourdes Junqueira Miranda, a Tuquinha Miranda
Estação Ferroviária
Estação poética.
Dona do verso e da rima.
Histórica, retórica, heróica.
Versificada. Fotografada.
Já foste tão rimada!
Paisagem das Gerais que emite tantos ais.
Violada. Pisada. Mutilada.
Rendida!
Pedaços esquartejados de um passado bonito.
Já foi Sulfato Ferroso
alimentando tantos sonhos,
nos tempos que o trem apitava,
anunciando a sua chegada.
Vontade de vê-la bonita de novo.
De corpo, alma e cara pintada.
De volta à cena, festiva.
Com gente na plataforma,
aguardando o embarque ou
quem sabe, à espera de um alguém.
Da pracinha mais linda da minha cidade, posso vê-la.
Agonizando… por trás dos vagões.
Tento decifrar o indecifrável: o seu futuro.
O seu retorno à história.
Lembro-me da minha vó paterna, Dona Percília
que costumava dizer em tom de desespero,
carregado de lamúria
diante de situações fatídicas:
_“Deus queeeeeeeeeira, queira, Deus!”
Só me resta, então, dizer:
— Deus! Faça o favor, de querer!
Jane Rosa (2015)*
*Poema escrito pela moradora do bairro Estação Jane Rosa, depois de uma das ações de mobilização para a retomada das atividades.
“Matozinhos sente saudades… Das festas do Santo Jubileu realizadas na década de 50. (…) Jamais posso me esquecer do movimento que acontecia na Estação, quando chegavam os romeiros e os barraqueiros. Lá na estação parecia uma procissão, pois era gente que não acabava mais. E o importante é que no meio deste povo chegava sempre o famoso Fernando, que era conhecido como Rolete. Durante a semana, na Matriz do Senhor do Bom Jesus, eram rezadas as novenas e no final a Benção do Santíssimo. Quando terminavam as cerimônias, na porta da igreja, ficavam enfileirados os mendigos pedindo esmola. Dos mendigos não esquecemos daquele cego (parece que chamava Antônio Baú) que recebia esmola e fazia um verso para a pessoa. Ele era o mendigo mais concorrido e causava até ciúmes entre outros. Na praça ficavam as barraquinhas e eram iluminadas com lamparinas e lampiões a gás ou carbureto (…)”
Christiano Gomes, em “Matozinhos sente saudades” (2000, p. 29)
“Matozinhos sente saudades… Da Estação Ferroviária, quando existia o trem que levava os passageiros de Matozinhos para Sete Lagoas ou para Belo Horizonte. Era o transporte que predominava na época. (…)
Lembramos de Quintiliano, que pegava o trem para Montes Claros para vender frutas, balas e bombons. Dentro do trem ele anunciava, “olha a maçã fresquinha da Argentina”. Se veio da Argentina, seria mesmo fresquinha? Foi assim que iniciou o seu negócio, tornando-se, mais tarde, um grande comerciante de nossa cidade. Podemos lembrar de Sacramento Cupertino, que passou a substituir o seu pai, o velho Colô, que carregava as malas de jornais e cartas para a população. Só depois de muitos anos conseguiu comprar um carrinho de mão que facilitava o seu trabalho. Quando chovia era um problema, o Morro da Paciência, por onde passava, era de terra e muita argila, escorregava muito. Às vezes ele caía e se lambuzava todo, mas as correspondências e os jornais chegavam intactos nos seus destinos (…)”.
Christiano Gomes, em “Matozinhos sente saudades” (2000, p. 33)
Trem de Ferro
Café com pão
Café com pão
Café com pão
Virge Maria que foi isto maquinista?
Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
Oô…
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
De ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
De cantar!
Oô…
Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficiá
Oô…
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matá minha sede
Oô…
Vou mimbora vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no Sertão
Sou de Ouricuri
Oô…
Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente..
Manoel Bandeira
Cartas (histórias)
Maria Geralda Alves Canuto Ribeiro, a Geraldinha de Renê
“Eu tenho uma história que não sai da minha mente, me lembro dela desde que tenho cinco anos. É incrível, mas parece que foi ontem que aconteceu. Sou de João da Ponte, cidadezinha que fica depois de Montes Claros. Meus irmãos mais velhos vieram para Matozinhos trabalhar na usina de açúcar e, logo depois, mandaram buscar minha mãe, meu pai, eu e os outros irmãos. Viemos de trem, foi maravilhoso! Nós sempre voltávamos a João da Ponte, minha mãe era muito ligada à cidade, o prefeito a convidava para cozinhar nas festas e eleições, e eu sempre ia junto.
Em uma dessas viagens, o trem chegava aqui umas três e pouca da manhã. Quando nós chegamos perto do Araçás, que nem existia ainda, o trem parou, não sei o que houve. Minha mãe achou que já era a Estação de Matozinhos e desceu com uma mala na mão. Foi a conta, não deu nem tempo de eu ir atrás. O trem deu a partida sem ela, eu abri a boca a chorar, grita, fiz um escarcéu, mas ninguém podia fazer nada, o maquinista não ouvia ninguém lá de dentro. A sorte é que havia um amigo da nossa família no vagão também, o Seu Cândido. O trem chegou à Estação, e eu em gritos. Nós paramos na casa de Dona Tereza, que morava ao lado da usina de açúcar. Ela fez um café com leite para mim e me carinhou, enquanto Seu Cândido e mais umas pessoas foram em busca de minha mãe. Ela vinha sozinha naquele breu, e eu fiquei gemendo de dó da minha mãe.
É uma história triste, mas, todas as vezes que eu passo pela Estação de Matozinhos, me vem a história da minha mãe chegando na estação há 62 anos atrás.”
Inês Gomes Luiz, a D. Nezita
“Era o último dia do trem Expresso, ia passar às oito horas da manhã na Estação. Saímos uma turma daqui de cima, no Centro, umas oito pessoas, e foi juntando mais gente pelo caminho. As meninas minhas foram todas, inclusive Marcelo, que tinha seis anos. Passamos na Estação e ainda pegamos Ana Claudia, filha de Joaquim padeiro. Entramos no Expresso, coube todo mundo, fomos até Curvelo. Chegamos lá já era mais de meio dia.
Fomos conhecer os lugares ali pertinho mesmo, porque tinha que voltar no Expresso, o último do dia passava às seis da tarde. Vimos a igreja, almoçamos e, quando o trem apitou numa curva, a gente correu, já tinha ônibus, mas ninguém tinha dinheiro para a passagem, porque era bem mais cara que a do trem. Ana Cláudia tinha sumido, e o trem apitando na curva, chegando na estação, até que Ana Cláudia veio correndo. Quando ela chegou na estação, o trem tinha acabado de parar, e demorava dois minutos só, estava lotado, não tinha lugar pra mais ninguém! Mas não tinha jeito, nós viemos em pé mesmo, naquele sufoco todo. Falamos com o agente de trem, “moço, a gente quer ir ao restaurante comer alguma coisa”, mas ele não deixou, disse que não tinha nada para vender. Mas a gente queria mesmo era arrumar um espacinho. Viemos em pé mesmo, custamos a chegar aqui, porque eram umas quatro, cinco horas de viagem.
Chegamos em Matozinhos, foi assim que nos despedimos do Expresso”.
Maria Conceição de Lima, a Leleca
“Mesmo morando em Matozinhos, era muito intenso, na minha infância e adolescência (até uma parte da juventude também), a questão dos trens que vinham de Montes Claros. Eles tinham uma parada aqui de passageiros. Só que eu fui conhecer e andar de trem mesmo aos 15 anos, quando fui com alguns irmãos e primos. Isso foi no final dos anos 1970. Nós pegamos o trem e fomos até Curvelo, conhecer e fazer uma viagem de trem. Eu me lembro que a gente até comprou as passagens de primeira classe, mas depois, quando nós entramos no trem, descobrimos que o bacana não era viajar na classe mais chique, mas no outro vagão, chamado de “baianada” na época. Era o mais divertido! Eu sou mineira mesmo, eu gosto muito de trem. Eu trabalho na biblioteca de Prudente Morais, cidade mais próxima daqui, e ela funciona exatamente numa antiga casa da rede ferroviária. Quando estou trabalhando, às vezes eu paro e vou para uma das janelas que dá pra linha, ver o trem de carga passar. Sempre que há uma máquina diferente, vou lá e tiro foto. O trem faz parte da nossa vida.”
Lés Sândar Viana
A minha história com a Estação é muito parecida com a de todos os habitantes da cidade. Mas minha relação mais próxima mesmo é um trabalho de faculdade. Eu sempre fui muito amante dos trens, e quando tive que apresentar a monografia no curso de história, resolvi fazer um trabalho para descobrir como surgiu a Estação e como funcionou esse tipo de transporte em Matozinhos. Fiz pesquisas orais com os moradores do local, porque já não existia tanto documentário assim sobre a Estação. Pesquisei também algumas coisas na própria Estação, até a ata de inauguração eu consegui. Minha ligação é muito ampla por perceber a importância dela socialmente para a cidade. A Estação foi um dos nossos primeiros bairros, inclusive ele tem esse nome por causa da Estação Ferroviária. E eu fiquei encantada, meu trabalho todo girou em torno disso. E, aí, a gente vai se apaixonando mais, porque se a gente reparar, a Estação é um bairro que tem as pessoas mais velhas daqui, é um bairro com casas mais antigas, com um apelo histórico e social muito grande. Então, pra mim, foi muito interessante o trabalho e a minha ligação com a rede ferroviária.
Jane Rosa
A minha relação com o prédio da Estação ferroviária de Matozinhos aconteceu quando eu fiz 18 anos. Foi uma relação muito prazerosa e, ao mesmo tempo, de empoderamento. O motivo, eu tinha acabado de me formar em magistério na escola Bento Gonçalves e, juntamente com mais duas amigas, planejávamos fazer uma viagem de trem.
Logo no primeiro pagamento de professora, avisei aos meus pais que iríamos. No início, foi uma coisa de louco. Eu hoje tenho 58 anos, imagina isso aos 18, viajar sozinha e ainda de trem. E foi uma festa! Fomos eu e essas amigas matozinhenses, que também eram professores formadas junto comigo. Pegamos o trem de passageiros, ele passava às 20h45. Aquela emoção toda, ainda não existia malas como agora, essas bonitas, levamos sacolas. Nosso destino era Bocaíuva, a Festa do Senhor do Bonfim. Ao entrar no trem, quando ele apitou para sair, meu coração disparava de emoção. Na minha época, moças saírem para passear era algo inovador, ainda mais pegar um trem sozinha, com hotel marcado em outra cidade.
Quando chegamos em Bocaiúva, já amanhecendo o dia, a cidade estava em festa, banda de música tocando, porque era o dia do padroeiro Senhor do Bonfim. O fato pitoresco foi que nós chegamos atrasadas na cidade porque, em um dos vagões, houve uma discussão, então precisou da intervenção da polícia na época. Então parava-se, a polícia entrava, e era a lei na época, ficava todo mundo caladinho até resolver o problema e nós seguimos viagem, bem felizes.
Esse foi o primeiro passo marcante. Alguns anos depois, conheci o meu marido. Ele morava no Iraque, trabalhava como funcionário, e nós só conversávamos por cartas. E, nas cartas que ele enviava, tinha um sonho. Imagina qual era? Comprar uma casa próxima ao prédio da Estação Ferroviária. Quando ele veio para Matozinhos, de uma roça bem distante, o primeiro lugar que ele viu com a família, foi a Estação. Ficou encantado com o prédio! Nós nos casamos e, um ano e pouco depois, começamos a procurar essa tal residência que seria o nosso lar. E compramos a casa aqui, hoje sou moradora há 30 anos e tenho um grande prazer em morar nesse bairro, porque é muito charmosa a nossa Estação ferroviária. Ainda que em situação de depredação, ela não conseguiu perder o seu charme. E agora nós estamos imensamente felizes com essa proposta de vê-la bonita de novo.
Inês Cristina
Eu não vejo a história da Estação desvinculada das demais histórias de Matozinhos. Matozinhos, embora seja uma cidade relativamente pequena, tem muitas histórias… Histórias fragmentadas que, depois que a gente analisa, formam um grande elo. Histórias dos povos que viveram aqui na pré-história, que deixaram seus registros nas cavernas, que nós temos muito orgulho. É uma cidade que tem quase 300 grutas catalogadas, não é pra qualquer um! Uma cidade que faz parte da APA (Área de Proteção Ambiental do Carste de Lagoa Santa), que teve aqui povos indígenas, que foi iniciada pelos bandeirantes da antiga bandeira de Dom Rodrigo de Castelo Branco, que tem seu nome linkado a uma cidade homônima de Portugal.
E a Estação ferroviária tem um vínculo muito forte com a história do Brasil Colônia. Inicialmente, o Brasil tem a sua história muito influenciada pelos ingleses, devido ao período colonial e imperial. Todas as estações ferroviárias foram construídas, direta ou indiretamente, pelos ingleses, inclusive todos os modelos são praticamente idênticos em todo o território brasileiro. E, ali na Estação, era o lugar de ir e vir de passageiros e mercadorias. Então, desde menina, eu ia lá e toda vez que as professoras falavam da história de Matozinhos, eu ficava pensando nas pessoas que tinham entrado e saído por ali, nas mercadorias que tinham chegado, ficava pensando nos tecidos. Fala-se também que ali era o centro comercial de Matozinhos, nos primórdios da cidade.
Então, a Estação pra mim sempre foi um museu a céu aberto. Ela simboliza a nossa história.
Deise
Nós temos uma personagem muito importante aqui, que morava no bairro Estação. Eu não a conheci, mas ouço muitas histórias e vejo muitas fotos, que é a Neide Pereira. Ela era uma promoter das antigas, que levava todo o glamour às festas e aos carnavais da cidade. Lembro-me de um evento em Matozinhos, eu era muito criança, minhas tias nos levaram para assistir o “Mineiros Frente a Frente”, programa que passava na TV Tupi. Teve a participação de Maria Alcina, foi um dia muito importante pra nossa população. Estava todo mundo muito alvoroçado, fazendo roupa nova para participar. Nesse evento grandioso para Matozinhos na época, tinha Neide abrilhantando tudo isso. Neide era uma mistura de vários ícones e foi uma personagem do bairro que fez grande diferença.
Também tem o meu avô, que trabalhava na rede ferroviária, ele era guarda-chaves. Me lembro que ele precisava ficar acompanhando os trilhos, a noite inteira, para ver se não tinha nada que poderia interromper a passagem do trem. E a minha avó conta que foi com esse trabalho que ele conquistou tudo o que conseguiu. Foi com o salário da rede ferroviária que ele comprou um terreno muito grande, dividiu entre os onze filhos, e hoje todos nós moramos muito próximos graças ao meu avô. Então, a rede ferroviária está na nossa vida, na do meu avô, que foi passando isso para a gente.