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Horto da Liberdade
O Horto da Liberdade, em Mateus Leme, foi uma fazenda histórica onde vários funcionários da ferrovia moravam, contribuindo para o funcionamento e desenvolvimento da região com suas atividades diárias e estreita relação com o setor ferroviário.

Olá! Eu sou o Alcides de Oliveira, mas todo mundo me conhece como Cidico. Sou bastante conhecido por aqui, e tenho uma enorme paixão por essa comunidade.

Cidico

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Foto aérea

Vista da área de trabalho da Fazenda Horto da Liberdade, é possível ver a serralheria, os dormentes e o trilho que os levava até a Usina de tratamento. Ao lado do trilho da fazenda estavam os trilhos que fazia o percurso da Linha Paracatu. Ao fundo é possível ver a área administrativa e as casas dos funcionários que trabalhavam na fazenda. Na área não visível a esquerda, se encontravam a Sede da Fazenda, a usina e outros pontos.

O início da Fazenda Horto da Liberdade

A Fazenda da Liberdade foi uma propriedade herdada por Dona Inácia Rosa Nogueira. Em 1904, foi a leilão e suas terras foram divididas em 23 lotes. João Gonçalves de Sousa comprou 660 hectares e manteve o nome da fazenda. Em 1944, a Rede Mineira de Viação (RMV) a adquiriu e a renomeou como Horto da Liberdade, construindo um complexo para tratar dormentes de eucalipto para a ferrovia. Esse complexo foi um experimento importante para reduzir os custos de manutenção da linha férrea, que envolvia o plantio e tratamento de eucaliptos. Além dos galpões para tratar os dormentes, havia casas para os funcionários, uma escola, hortas comunitárias, um campo de futebol e uma barragem onde os moradores do Horto da Liberdade podiam desfrutar de lazer. Também havia um ponto de parada da linha férrea na propriedade.

Depoimentos

“A Fazenda da Rede Ferroviária era como uma mãe, era o início de tudo, o coração! Porque toda a ferrovia dependia dos dormentes da Fazenda da Rede.”

Maria Aparecida Rios, filha de ferroviário e antiga moradora do Horto da Liberdade.

“Eu vivi lá na Fazenda da Rede por 32 anos, porque o papai trabalhou lá, depois ele adoeceu e a gente veio para Azurita. Lá na Fazenda era muito bom, era plantação de eucalipto!”

Ilma Ribeiro dos Santos, filha de ferroviário e antiga moradora do Horto da Liberdade.

Cidico

“O Cidico era um companheiro de futebol e de pescaria. Era o paizão da turma, sempre levava a gente para pescar. Reuníamos todos: arrumávamos a bagagem, a mochilinha e íamos. Pegávamos o trem para Velho da Taipa, em Pitangui e íamos pescar lá. A gente dormia na estação de Pitangui. Levávamos o cobertorzinho, forrávamos o chão, enrolávamos nele e dormíamos. Às quatro horas da manhã a gente acordava e ia pescar. Que tempo que a gente viveu assim, de coragem, de aventura.”

Maria Aparecida Rios, filha de ferroviário e antiga moradora do Horto da Liberdade. 

Produção e conservação de dormentes

Os dormentes são elementos da superestrutura ferroviária que funcionam como uma superfície de apoio, ajudando na distribuição do peso das locomotivas. Eles podem ser produzidos a partir de diversos materiais, como madeira, concreto, aço ou plástico. O dormente de madeira é o mais usado, pois reúne as características essenciais para um bom funcionamento: manuseio fácil, não sofre corrosão, boa resistência a descarregamentos e boa elasticidade. Apesar de todas essas características, a madeira está sujeita à decomposição devido aos agentes físicos, químicos e biológicos: fungos, bactérias e insetos. Para aumentar a durabilidade do dormente, a madeira era tratada com substâncias preservativas, como o creosoto (que não é mais utilizado por seu risco à saúde e ao meio ambiente), o arsenato de cobre cromatado e o borato de cobre cromatado.

A Superestrutura ferroviária

O sistema ferroviário se divide em dois conjuntos, a superestrutura ferroviária e a infraestrutura ferroviária. A infraestrutura é constituída pela plataforma, as obras de terra, e os sistemas de drenagem. A superestrutura, também conhecida como via permanente, é composta pelos trilhos, dormentes, lastro, suas fixações e acessórios.

Do eucalipto ao dormente

Diversos tipos de madeira podem ser utilizados como dormentes. Entre elas, as madeiras de eucalipto são as mais comuns. Introduzido no Brasil na década de 1960, o eucalipto foi rapidamente adotado pela indústria devido à sua boa adaptação ao solo brasileiro e ao seu rápido crescimento. Na Fazenda Horto da Liberdade, havia uma plantação de eucalipto e uma estação de tratamento, permitindo que os dormentes já saíssem da fazenda prontos para uso na via permanente.

O uso de creosoto no processo de conservação da madeira

O creosoto era usado como substância preservativa da madeira desde o início do século 19. Ele consiste em uma mistura orgânica de mais de 200 substâncias diferentes; é uma substância oleosa, de cor escura, de odor forte e intenso. Essa substância pode ser extraída de qualquer material vegetal parcialmente decomposto ou fossilizado. Esse material é submetido a um processo de carbonização que produz uma substância denominada alcatrão. A destilação do alcatrão fornece diversos produtos, dentre eles, o creosoto. Diversos tipos de creosotos podem ser obtidos de diferentes matérias primas, entretanto o mais utilizado em madeira é o creosoto de hulha (um tipo de carvão natural). Na madeira, o creosoto adere à sua parede celular, formando uma “capa” de proteção, extremamente eficiente contra a deterioração. Na ferrovia, o creosoto era amplamente utilizado no tratamento de dormentes e postes telegráficos.

Descrição do cheiro do creosoto

Cheiro terrível, forte, fedorento, impregnante e contaminante. Tão forte que, mesmo o dormente estando em área aberta, era possível senti-lo à distância. Cheiro impossível de descrever, que não há nada semelhante a ele. Quando impregnava na roupa era quase impossível de tirar.

Trabalho e saúde ocupacional

O tratamento de dormentes com creosoto foi amplamente utilizado no Brasil. O creosoto contém substâncias tóxicas que podem causar sérios problemas de saúde se não for manuseado corretamente, sem o uso adequado de equipamentos de proteção, como máscaras, luvas e roupas apropriadas. Em Azurita, há uma série de relatos de acidentes e problemas de saúde entre trabalhadores devido ao contato com o creosoto, muitas vezes agravados pelo uso inadequado dos equipamentos de proteção. Além disso, o descarte de dormentes tratados com creosoto, no meio ambiente, ainda pode resultar em contaminação dos solos, oferecendo diversos riscos ao meio ambiente e à saúde humana. Por esse motivo, esse tipo de tratamento não é mais utilizado. Hoje são utilizadas alternativas mais sustentáveis: dormentes de eucalipto tratados com CCA e CCB.

“O creosoto queima a pele. Dá um monte de caroço na pele da gente. Eu tenho caroço no peito até hoje. Dá coceira no corpo. Eu tratei com um médico em Divinópolis, foram três anos tomando remédio e injeção a cada cinco dias. Passei três anos tomando essa vacina e usando uma pomada. Essa doença do creosoto não tem cura, não. Eu estou tomando um remédio, o Estado está fornecendo para mim. Eu tomo todo dia, de 12 em 12 horas.”

Cícero Pereira de Souza, ferroviário aposentado.

“O remédio que eles usavam na imunização da madeira era muito forte. O cheiro forte, muito forte mesmo. A pele dos funcionários ficava impregnada daquele cheiro. Chegava em casa, tinha que tomar banho de bucha para tirar o cheiro forte. Ele chamava creosoto. Era um impermeabilizante pra não dar bicho. E não vai dar bicho mesmo não, porque uma catinga daquela!”

Maria Augusta de Souza, esposa de ferroviário.

“O dormente era tratado com um produto chamado creosoto. Quando o creosoto foi descartado, porque era tóxico, cancerígeno, o substituíram por outro produto que era menos problemático: o CCA, uma espécie de fungicida.”

Gilson Raimundo da Silva, filho de ferroviário e antigo morador do Horto da Liberdade.

“O dormente tratava com um tal de creosoto, entrava dentro de um tanque, e tinha um cara que trabalhava nesse tanque. Depois de tratar, a gente tirava pra fora, e a gente ia carregar as pranchas. Eu não tive problema não, mas tinha os ajudantes, coitados. Eles sofriam. Arrancava até a pele deles. O cheiro desse creosoto era forte demais. Uns três colegas que trabalharam comigo morreram de câncer no pulmão, por causa desse cheiro do creosoto. Depois de um tempo cortou o uso desse creosoto e passou a usar outro, que era menos forte.”

Mario Camilo Ferreira, ferroviário aposentado.

Os tipos de trabalho

Havia diversos postos de trabalhos na Fazenda Horto da Liberdade. Além dos trabalhos relacionados às funções ligadas diretamente ao plantio de eucalipto, produção e conservação de dormentes, havia postos de trabalhos relacionados à administração da fazenda, à carpintaria, à olaria e aos serviços gerais, como cuidados com a horta e com o pomar. Os relatos a seguir apresentam um pouco de cada uma dessas funções.

“Aqui no Horto eu fiz várias coisas. Eu fiz tanta coisa que é quase difícil de descrever. Eu comecei como trabalhador braçal. Trabalhei de operador de autoclave, que é onde imuniza a madeira. Fiquei lá um punhado de anos. Depois eu trabalhei de carreiro, de ferreiro, de pintor, de marceneiro, de eletricista, de soldador, de mecânico. Então a última parada minha aqui no Horto foi de mecânico.”

Gecy Pinto de Oliveira, ferroviário aposentado.

 

Plantio de Eucalipto

“Meu pai, Alcides Rvaibeiro Leite, mexia com carro de boi. Era ele que carregava as mudinhas para poder plantar. Saía lá da fazenda para ir para a cachoeira pegar esterco, para fazer a plantação de eucalipto.”

Ilma Ribeiro dos Santos, filha de ferroviário e antiga moradora do Horto da Liberdade.

Imunização de dormentes

Lembro que na época de adolescente, vinham muitas carretas. Elas ficavam no pátio, em filas que chegavam até um quilômetro. As carretas chegavam com a madeira para ser feito o tratamento. A madeira chegava às toras, eles cortavam e tiravam as galhas… Aí serrava e punha na autoclave. Era um túnel, de 22 metros. Você colocava em uma vagoneta, tipo um trenzinho, empilhava ali umas 20 peças dentro e empurrava pra dentro da autoclave. Na época do creosoto, aquecia o creosoto e injetava ele ali dentro. Gilson Raimundo da Silva, filho de ferroviário e antigo morador do Horto da Liberdade.

Serralheria

Eu trabalhei na serraria e depois, quando eu aposentei, eu fui vigia. Mas, na Rede eu trabalhei lá na serraria, ajudando a aparar os dormentes. Eu trabalhava no acesso aparando os dormentes. Partia a madeira em duas partes. Tirava as toras, tirava as tabas e tirava o dormente. Tinha uma esteira que levava pra frente e eu aparava a cabeça dele, que tinha uma medida certa. Mario Camilo Ferreira, ferroviário aposentado.

Olaria

“Aqui tinha uma cerâmica onde faziam tijolos. E muitos tijolos dessas casas aqui foram feitos a partir dessa cerâmica. Os funcionários produziam tijolos para vender.”

Gilson Raimundo da Silva, filho de ferroviário e antigo morador do Horto da Liberdade.

“Eu trabalhava na fazenda e tinha cinco companheiros que mexia com tijolo. Eu batia dois mil tijolos todos os dias. Era uma carreira de trinta, trinta e cinco, quarenta, até quarenta mil!”

Cícero Pereira de Souza, ferroviário aposentado.

Serviços Gerais

“Meu pai, José Ferreira Rios, era muito ativo, fazia de tudo um pouco. Ele queimava carvão nos fornos, que servia para aquecer a maria-fumaça e a máquina de creosoto. Além de fazer rondas noturnas, trabalhar na usina, na horta e no pomar. Um verdadeiro faz-tudo.”

Maria Aparecida Rios, filha de ferroviário e antiga moradora do Horto da Liberdade.

Escriturários

“O pai, Antônio Camilo Ferreira, foi ferroviário, ele era escriturário. Ele foi o primeiro empregado deles lá. Quando a Rede comprou essa fazenda, ele já trabalhava na fazenda tirando leite. Acho que ele tinha 15 anos de idade.”

Sebastião Camilo Ferreira, ferroviário aposentado.

Operadores de máquina

“Para recolher o eucalipto plantado, era necessário o uso de máquinas especiais como tratores e retroescavadoras. Meu marido, Geraldo Rodrigues de Paula, entrou como operador de máquinas. Mas ele não trabalhou muito tempo com a máquina, não. Depois ele e o Geraldo passaram a trabalhar como motorista do engenheiro que tinha lá na fazenda.”

Maria Augusta, esposa de ferroviário.

Comunidade

As casas amarelas com janelas e portas azuis, o pomar e a horta comunitária, a escola Barão de Mauá, as brincadeiras, as pescarias, a barragem, o campo de futebol e os festivais faziam parte do cotidiano das famílias que viveram na Fazenda Horto da Liberdade. Muitos recordam com saudade as histórias vividas nesse espaço, onde a convivência e os laços de amizade foram cultivados ao longo dos anos. Para muitos, a Fazenda foi uma verdadeira comunidade. Os depoimentos dos que lá viveram falam por si só, trazendo à tona memórias de uma vida rica em experiências compartilhadas e momentos de união.

A sede da fazenda

A sede da fazenda Horto da Liberdade era utilizada, pelos engenheiros e outros funcionários do alto escalão da Rede Ferroviária Federal, como casa de campo. Lá, eles podiam passar os finais de semana hospedados. Os funcionários da fazenda e seus familiares, normalmente, não frequentavam esse espaço. Ela possui uma piscina e um campo de futebol nos fundos, também contava com uma mesa de bilhar.

“Na fazenda tinha uma sede que acolhia os funcionários que vinham de fora. Funcionários da Rede que não trabalhavam na Fazenda. Alguns vinham Belo Horizonte para ficar no final de semana, uma coisa assim… era meio que uma casa de passeio. Mas, a gente não tinha acesso a essa casa.”

Telma Regina Rezende Ferreira, filha de ferroviário e antigo morador do Horto da Liberdade.

As casas

Na fazenda, havia cerca de dez casas construídas para os funcionários e suas famílias. Elas eram muito semelhantes entre si: paredes amarelas, janelas azuis, de tamanhos e formatos semelhantes. Ficavam enfileiradas, bem próximas umas das outras. Havia ainda, duas casas separadas que ficavam abaixo da escola. Estas eram para os funcionários que trabalhavam na área administrativa da fazenda. A distribuição espacial das casas contribuiu para estreitar os laços de afeto e amizade entre as famílias que ali viviam. As casas foram demolidas e poucos resquícios de suas estruturas permanecem de pé, resistindo à passagem do tempo.

“Cada casa era de um funcionário da Rede. Tinha uma casa que era do chefe, perto da Sede, e uma outra ao lado, que pertencia ao pessoal do escritório. Mais para cá eram as dos outros funcionários que trabalham no serviço braçal.”

Telma Regina Rezende Ferreira, filha de ferroviário e antigo moradora do Horto da Liberdade.

“A Rede dava a oportunidade para quem quisesse morar na Fazenda. Quando o funcionário se aposentava, tinha que desocupar a casa para dar lugar a outros. Meu pai não queria sair de jeito nenhum.”

Maria Aparecida Rios, filha de ferroviário e antiga moradora do Horto da Liberdade.

A Escola Rural Barão de Mauá

A Escola Rural Barão de Mauá foi construída para atender os filhos dos funcionários que moravam na fazenda. Localizada ao lado das casas, a escola oferecia ensino até o quarto ano primário. De acordo com os relatos, as turmas do segundo e terceiro ano estudavam juntas, enquanto as do primeiro e quarto ano eram separadas. A partir do quinto ano, as crianças passavam a estudar em Azurita. Muitos se lembram de percorrer um caminho de 3 km até a escola em Azurita. O imóvel que abrigava a escola ainda está de pé, com a inscrição “Escola Barão de Mauá” visível em uma das paredes. Desde o fim das atividades da rede ferroviária no Horto da Liberdade, o imóvel permanece sem uso.

“As aulas eram de manhã, com turmas eram multisseriadas, ou seja, alunos de diferentes anos juntos. As carteiras eram juntas também e as professoras vinham de Itaúna ou Azurita. Depois do quarto ano, fazíamos a caminhada em grupo para estudar na cidade.”

Maria Aparecida Rios, filha de ferroviário e antiga moradora do Horto da Liberdade.

“O nosso uniforme era calça azul e blusa branca. E a nossa escola chamava Escola Rural Barão de Mauá. Tinha sempre as festas juninas na escola, que era muito movimentada.”

Gilson Raimundo da Silva, filho de ferroviário e antigo morador do Horto da Liberdade.

Horta e pomar comunitários

A horta e o pomar comunitários ficavam próximos à sede da fazenda. Eles eram cuidados pelos funcionários que trabalhavam no plantio e colheita dos alimentos. Todos podiam desfrutar do que era colhido.

“Tinha um pomar bonito lá no Horto, nesse pomar tinha muita mexerica, muita laranja. Então, uma ou duas vezes por semana, você podia ir lá e encher um saco com mexerica. Tinha horta e um pessoal que trabalhava nela, plantando. Tudo que produzia de verduras, qualquer coisa, era de graça pros empregados. Eu fazia um serviço na fazenda que chamava “laminar serra”, era muito complicado, esquentava a cabeça com ele. Quando começava a dar problema, eu largava aquilo e ia pro pomar. Eu sozinho, ia pro pomar… botava a cabeça pra descansar…”

Gecy Pinto de Oliveira, ferroviário aposentado.

O Campo de Futebol

O campo de futebol localizava-se próximo às casas dos ferroviários e era uma das principais opções de lazer na fazenda. Com uma boa infraestrutura, incluindo um vestiário e um bar, o campo era dominado pelo Ferroviário Esporte Clube, tanto nas categorias feminina quanto masculina. Além do Ferroviário Esporte Clube, outros times que deixaram sua marca foram o Independente e o Santos, times de Azurita que sempre participavam dos festivais que aconteciam na fazenda. O festival funcionava como um torneio de futebol. Ônibus lotados chegavam com os times de outras cidades mineiras para a competição. Muitos aproveitavam o fluxo de pessoas no campo para vender refeições e doces.

“Fui treinador do time de ferroviários por 4 anos. Fui até campeão lá. Quase todo domingo tinha festival. Tinha jogo o dia inteiro. Vinha time do Belo Horizonte… vinha cinco ônibus! Ficava cheio de tanto torcedor lá.”

Mario Camilo Ferreira, ferroviário aposentado.

Festividades

Algumas celebrações na fazenda eram proporcionadas pela Rede Ferroviária. Nas festividades de Natal e Dia das Crianças, eram distribuídos presentes para os filhos dos funcionários.

“Tinha festa, no Dia das Crianças, eles traziam brinquedos para gente e tudo, dava pipoca, picolé, algodão doce… Minha mãe tinha o maior medo, falava que algodão doce era um negócio esquisito e não deixava a gente comer. No Natal, mandavam os presentes para os filhos dos ferroviários. Fazia uma festinha para os ferroviários, tinha refrigerante e pão com salame.”

Maria Aparecida Rios, filha de ferroviário e antiga moradora do Horto da Liberdade.

Jogos e brincadeiras

Além do campo de futebol, os jogos e brincadeiras eram atividades de lazer rotineiras, não apenas para as crianças que cresceram na fazenda, mas também para os adultos que participavam dessas atividades. Os jogos de baralho são os mais lembrados por todos, muitas vezes debaixo de uma árvore, crianças e adultos passavam horas do dia jogando cartas.

“A gente sempre jogava na casa do Cidico. Às vezes a gente jogava em frente à casa dele, lá tinha duas árvores de figo, duas árvores enormes, que faziam a sombra. Aí ele chegava estendia uma coberta ou uma toalha, e se sentava ali.”

Gilson Raimundo da Silva, filho de ferroviário e antigo morador do Horto da Liberdade.

“O negócio nosso era brincar na rua, de roda, de passar anel… A gente juntava as turminhas, pois a maioria tinha a mesma idade. A gente varria a rua, sentava-se no chão e brincava.”

Telma Regina Rezende Ferreira, filha de ferroviário e antigo morador do Horto da Liberdade.

A Barragem

A barragem era usada para refrescar em dias de calor. Tinha uma pequena queda d’agua e alguns contam que aprenderam a nadar ali. Era uma piscina natural que podia ser disfrutada por todos que ali viviam.

“Nós tínhamos tudo, o que é melhor que aquela barragem? Ela caia uma água em cima das pedras, isso para nós era uma beleza, era a nossa piscina, mas não era de vestir biquíni, era de short mais comprido. A barragem era boa demais, eram umas pedras maravilhosas, tinha uma cachoeira e a gente andava ali. Para nós não tinha nada melhor. Era a nossa piscina de ouro, era tudo muito natural, tudo muito bom.”

Telma Regina Rezende Ferreira, filha de ferroviário e antiga moradora do Horto da Liberdade.

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