O alvoroço da chegada do trem: do apito ao footing
“A primeira coisa que me vem ao pensamento quando lembro da ferrovia é o apito do trem. Ele me lembra como era a estação, tudo! As pessoas viajando de trem, o túnel, a cidade, o trem chegando. É uma coisa de mineiro também, né? Mineiro parece que gosta tanto de trem que usa trem pra falar de tudo.”
Depoimento cedido por Sebastião Alves Junior Gaia, morador de Campos Altos.
Os sons do trem e da buzina que seguem ecoando até hoje em Campos Altos têm espaço especial nas memórias daqueles que viveram o dia a dia da estação a pleno vapor. O barulho das máquinas descendo a curva do S relembra os moradores da chegada do trem e do alvoroço que ele provocava na cidade.
“Então era aquele movimento danado, o pessoal descia pra ver o movimento dos passageiros chegando, a gente sentia aquele cheirinho da comida do restaurante. Na verdade, a gente sente até hoje, sabe?”
Depoimento cedido por Jarbas Ribeiro de Carvalho, jornalista de Campos Altos.
A chegada do trem misto, Noturno ou do Mineirão, era quase uma festa. Os moradores saiam de suas casas – alguns carregando cadeiras! – e paravam na praça para ver as locomotivas chegando. As ruas se enchiam e modificavam toda a cidade; era um verdadeiro espetáculo. A estação lotava, tinha fila no embarque e uma disputa pelos melhores lugares nos banquinhos da praça.
“Na principal, ali, chamavam de footing, não sei se você já ouviu falar. Então, os moços iam de um lado e as moças vinham do outro. Aí, você ficava até as tantas horas fazendo aquele caminhado. Era muito bom. Fazia baile, era assim: juntavam a turminha, falavam ‘Vamos pagar o fulano, o sanfoneiro’, convidavam as moças, era uma cidade pequena, convidavam e falavam ‘Vamos dançar, vamos dançar’. Assim que fazia.”
Depoimento cedido por Laurici Olímpio de Oliveira, agente de estação aposentado.
Em Campos Altos, a espera da chegada do trem na estação era também pretexto para o chamado footing. Essa prática era comum no interior de Minas Gerais e consistia em rapazes e moças trançando de um lado para o outro na praça da cidade – uma fila de homens e outra de mulheres – para conhecer e flertar com pessoas novas, com funcionários da ferrovia ou até com algum passageiro. Dizem que muitos casamentos surgiram dali.
Locomotiva nº 55 movida a vapor em Campos Altos.
Autoria desconhecida, século 20. Acervo público de Campos Altos, MG.
Moradores na Estação Ferroviária de Campos Altos à espera da chegada do trem.
Autoria desconhecida, década de 1930. Acervo público de Campos Altos, MG.
População na Praça da Estação em frente ao Cine Monsenhor Otaviano.
Autoria desconhecida, 1960. Acervo Público de Campos Altos, MG.
Moradores olhando em direção à linha férrea em Campos Altos.
Autoria desconhecida, século 20. Acervo Público de Campos Altos, MG.