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Após a inauguração da Estação Ferroviária, em 1912, teve início a ocupação urbana no entorno da linha do trem. Muitas das moradias foram construídas para os ferroviários pelas próprias companhias. A EFOM, por exemplo, a partir de 1920, construiu diversas casas e casebres para agentes e chefes de estação e mestres de linha. Alguns funcionários, inclusive, residiam na própria Estação. Ao longo do tempo, infelizmente, grande parte dessas construções históricas foi demolida, mas há ainda algumas casas desse período que permanecem preservadas na cidade.
“O trem passava tão perto da casa do agente de estação, onde eu morava, que deitado na cama dava para ver o maquinista passando.”
Fábio Falco, morador de Campos Altos e filho de agente de estação, que morava em uma das casas dos ferroviários.
Próximo à ferrovia, ficava uma caixa d’água. Além de necessária para a manutenção da via e dos vagões, ela era importante para o abastecimento das antigas marias-fumaças, movidas a vapor. O uso era reservado para os trabalhadores e para a linha férrea, e a caixa ficava até mesmo trancada com um cadeado. Ferroviários aposentados relataram sobre o período em que foi colocado um chuveiro na caixa d’água para que pudessem se banhar.
As lavadeiras do entorno muitas vezes também usavam a água da caixa, como a senhora Margarida, conhecida por lavar e passar as roupas dos funcionários da ferrovia.
O Cube Social de Campos Altos era um espaço onde acontecia de tudo. Desde carnavais, casamentos e aniversários até bailes de formatura. A quantidade e a variedade de tais eventos eram sempre muito expressivas, assim como a animação deles, sempre repletos de moradores e visitantes, que chegavam pela estação ferroviária. O clube era frequentado, em sua maioria, por indivíduos com maior poder aquisitivo, por se tratar de um local privado. Pessoas de diversas cidades vizinhas vinham de trem a Campos Altos para eventos promovidos no clube, localizado bem próximo à Estação e parte fundamental da história da cidade na metade do século 20.
Inaugurado em 1960, o cinema inicialmente recebia seus filmes por um vagão específico do trem que trazia os rolos para a cidade. Localizado na Praça da Estação, suas sessões eram aguardadas pelos moradores locais e lotavam. O prédio compõe um complexo arquitetônico de estilo art déco, em conjunto com a estação de Campos Altos e com a antiga praça, antes de sua reforma. O cinema fazia brilhar a cidade e os olhos de quem ansiava pelas matinês ou sessões noturnas de filmes variados e em alta na segunda metade do século 20 – como “Tarzan”, “Rocky Balboa”, “De Volta para o Futuro” e outros clássicos do período, em sua maioria, hollywoodianos. Naqueles tempos, as crianças achavam maneiras de ganhar um trocado para não perder as matinês. Uma forma muito comum de fazer isso era coletando grãos de café que achavam caídos na estação e vendendo-os nos mercados do entorno. O prédio foi paixão coletiva dos moradores da região até 1990, quando a telona se encerrou e o cinema fechou as portas. Hoje, um grande depósito de café ocupa o espaço.
“A praça era lotada, muito cheia mesmo, que é onde a juventude vinha para fazer os encontros. Era na praça que tinha o cinema na época, eu até cheguei a passar filme muitos anos lá. Dava muita gente nos filmes, que era só filme bom na época. E dava uma fila, que às vezes a fila chegava aqui na frente do dormitório, a gente tinha que levar cadeira para o pessoal sentar no cinema de tanto que ficava lotado. Lá em volta tinha vários bares, tinha também restaurante, então, era um movimento muito bom aqui na praça. E o cinema lotado, a gente tinha as matinês, era todo domingo meio-dia. A matinê era mais para as crianças. Tinha à noite os filmes, sempre lotado o movimento na praça.”
Depoimento cedido por Jarbas Ribeiro de Carvalho, dono do “Jornal Campos Altos”.
A banda Lira Santo Antônio é um grupo musical consagrado na cidade. Fez parte de diversos desfiles e de quase todas as comemorações e eventos do município. Sua primeira formação foi por volta dos anos 50, com um grupo de amigos que a fundou. A banda existe até os dias de hoje e segue se destacando e sendo presente na cultura local. Vários ferroviários também fizeram parte de sua formação. As apresentações aconteciam por toda a cidade, mas com bastante frequência diante da Estação. A inauguração da Cemig em Campos Altos, por exemplo, foi um grande marco histórico, que contou com a apresentação da banda em frente à Estação Ferroviária.
“A banda Lira Santo Antônio surgiu por volta de 1950, com uma galera mais antiga que gostava muito de música. Eles tocavam nos barzinhos, se reuniram e formaram essa banda. […] Todos os eventos sempre foram ali na praça da estação. Então, a gente montava o palanque lá e fazia as apresentações. Que eram muito importantes, uma data cívica, que sempre teve ali. Então, qualquer coisa que a gente reunia, era na praça. Ali perto da estação, que era nossa referência de apresentação.”
Depoimento cedido por Carlos Roberto de Morais, filho de antigo agente de estação.
Os armazéns constituíam parte fundamental da vida campos-altense. Foi por meio deles que o comércio local se consolidou e as atividades comerciais, econômicas e de transporte na cidade se fortaleceram. Toda carga que chegava pela ferrovia era guardada nos armazéns, que se tornaram paisagens comuns em Campos Altos. Na ferrovia, havia barracões de carga e descarga que armazenavam milho, café, arroz, soja e toda a produção que circulava pela linha férrea. Desses barracões, os produtos já iam direto para os armazéns ou eram carregados por carroças para fazendas de plantações diversas.
Materiais de construção, alimentos ou bebidas? Os armazéns vendiam de tudo. Eles se localizavam próximos à Estação e em volta da praça. Alguns tinham os tradicionais balcões de madeira e funcionavam no sistema de caderneta. Os mais conhecidos e falados até hoje são o Armazém do seu Mariano e o Armazém do Sorlindo, que, segundo moradores, ficava onde hoje é o Clube Social.
A vida esportiva em volta da Estação também era intensa. Nos seus arredores foi construído um campinho de futebol e uma quadra de vôlei, utilizados tanto pelos ferroviários quanto pelos moradores. Além dessas atividades, a cidade tinha uma grande piscina para uso público. Construída pelo prefeito Chico Raimundo (que governou de 1970 a 1980), ela ficou bastante conhecida na cidade, assim como o espaço de esportes na Praça da Estação. Muitos também vinham de cidades vizinhas pelo trem para utilizar esses espaços.
Luzes coloridas, refletores piscando e jovens com roupas brilhantes dançando ao som de discos em sua maioria internacionais. Era esse o cenário das discotecas nos anos 70, que também faziam sucesso em Campos Altos nesse período. Fosse na discoteca do Seu Fininho, no Clube Social de Campos Altos, próximo à Estação, na praça em frente à linha férrea ou até mesmo nas casas de moradores do entorno, as chamadas “horas dançantes” eram bailes tradicionais que agitavam a cidade. Os jovens se reuniam em torno de rádios de pilha ou de vitrolas e dançavam em bailes que iam dos mais sofisticados, como os de formaturas, casamentos e festas de debutantes, aos mais improvisados.
Os desfiles de carnaval eram muito tradicionais na cidade entre os anos 60 até os 90. Os moradores enfeitavam carros alegóricos com os mais variados temas. Alguns deles refletiam os interesses de modernização da cidade, como carros em homenagem ao ouro verde, como era conhecido o café, grande impulsionador do movimento econômico da cidade. Não faltavam foliões fantasiados e muita animação.
O carnaval da cidade atraía pessoas das regiões próximas, como Bambuí, e até mesmo das mais distantes, como Brasília. Nessas épocas festivas, os viajantes chegavam de trem na cidade, hospedavam-se nas pensões e aproveitavam tudo o que Campos Altos tinha a oferecer, fazendo também circular a economia e favorecendo o comércio local.
O grande ponto de encontro de Campos Altos era a Praça da Estação. Ali, reuniam-se comércio, cinema, a própria Estação e todo o charme de uma praça muito arborizada. É quase unanimidade o saudosismo da praça antes de sua reforma mais recente, em 2005. Cheia de bancos, tinha pequenos canteiros e até um caramanchão. Seu projeto harmonizava com o cinema e a estação. Era tradicional acompanhar a chegada do trem sentado nos bancos, assim como vários outros tipos de lazer, como conversas informais e até o próprio footing. O comércio também movimentava a região, principalmente nos finais de semana, com vendinhas de comida e as horas dançantes. Depois da reforma, fica a saudade do encanto pela antiga praça compartilhado pelos moradores.
A banda Lira Santo Antônio é um grupo musical consagrado na cidade. Fez parte de diversos desfiles e de quase todas as comemorações e eventos do município. Sua primeira formação foi por volta dos anos 50, com um grupo de amigos que a fundou. A banda existe até os dias de hoje e segue se destacando e sendo presente na cultura local. Vários ferroviários também fizeram parte de sua formação. As apresentações aconteciam por toda a cidade, mas com bastante frequência diante da Estação. A inauguração da Cemig em Campos Altos, por exemplo, foi um grande marco histórico, que contou com a apresentação da banda em frente à Estação Ferroviária.
“A banda Lira Santo Antônio surgiu por volta de 1950, com uma galera mais antiga que gostava muito de música. Eles tocavam nos barzinhos, se reuniram e formaram essa banda. […] Todos os eventos sempre foram ali na praça da estação. Então, a gente montava o palanque lá e fazia as apresentações. Que eram muito importantes, uma data cívica, que sempre teve ali. Então, qualquer coisa que a gente reunia, era na praça. Ali perto da estação, que era nossa referência de apresentação.”
Depoimento cedido por Carlos Roberto de Morais, filho de antigo agente de estação.
Após a inauguração da Estação Ferroviária, em 1912, teve início a ocupação urbana no entorno da linha do trem. Muitas das moradias foram construídas para os ferroviários pelas próprias companhias. A EFOM, por exemplo, a partir de 1920, construiu diversas casas e casebres para agentes e chefes de estação e mestres de linha. Alguns funcionários, inclusive, residiam na própria Estação. Ao longo do tempo, infelizmente, grande parte dessas construções históricas foi demolida, mas há ainda algumas casas desse período que permanecem preservadas na cidade.
“O trem passava tão perto da casa do agente de estação, onde eu morava, que deitado na cama dava para ver o maquinista passando.”
Fábio Falco, morador de Campos Altos e filho de agente de estação, que morava em uma das casas dos ferroviários.
Os armazéns constituíam parte fundamental da vida campos-altense. Foi por meio deles que o comércio local se consolidou e as atividades comerciais, econômicas e de transporte na cidade se fortaleceram. Toda carga que chegava pela ferrovia era guardada nos armazéns, que se tornaram paisagens comuns em Campos Altos. Na ferrovia, havia barracões de carga e descarga que armazenavam milho, café, arroz, soja e toda a produção que circulava pela linha férrea. Desses barracões, os produtos já iam direto para os armazéns ou eram carregados por carroças para fazendas de plantações diversas.
Materiais de construção, alimentos ou bebidas? Os armazéns vendiam de tudo. Eles se localizavam próximos à Estação e em volta da praça. Alguns tinham os tradicionais balcões de madeira e funcionavam no sistema de caderneta. Os mais conhecidos e falados até hoje são o Armazém do seu Mariano e o Armazém do Sorlindo, que, segundo moradores, ficava onde hoje é o Clube Social.
O Cube Social de Campos Altos era um espaço onde acontecia de tudo. Desde carnavais, casamentos e aniversários até bailes de formatura. A quantidade e a variedade de tais eventos eram sempre muito expressivas, assim como a animação deles, sempre repletos de moradores e visitantes, que chegavam pela estação ferroviária. O clube era frequentado, em sua maioria, por indivíduos com maior poder aquisitivo, por se tratar de um local privado. Pessoas de diversas cidades vizinhas vinham de trem a Campos Altos para eventos promovidos no clube, localizado bem próximo à Estação e parte fundamental da história da cidade na metade do século 20.
Os desfiles de carnaval eram muito tradicionais na cidade entre os anos 60 até os 90. Os moradores enfeitavam carros alegóricos com os mais variados temas. Alguns deles refletiam os interesses de modernização da cidade, como carros em homenagem ao ouro verde, como era conhecido o café, grande impulsionador do movimento econômico da cidade. Não faltavam foliões fantasiados e muita animação.
O carnaval da cidade atraía pessoas das regiões próximas, como Bambuí, e até mesmo das mais distantes, como Brasília. Nessas épocas festivas, os viajantes chegavam de trem na cidade, hospedavam-se nas pensões e aproveitavam tudo o que Campos Altos tinha a oferecer, fazendo também circular a economia e favorecendo o comércio local.
Luzes coloridas, refletores piscando e jovens com roupas brilhantes dançando ao som de discos em sua maioria internacionais. Era esse o cenário das discotecas nos anos 70, que também faziam sucesso em Campos Altos nesse período. Fosse na discoteca do Seu Fininho, no Clube Social de Campos Altos, próximo à Estação, na praça em frente à linha férrea ou até mesmo nas casas de moradores do entorno, as chamadas “horas dançantes” eram bailes tradicionais que agitavam a cidade. Os jovens se reuniam em torno de rádios de pilha ou de vitrolas e dançavam em bailes que iam dos mais sofisticados, como os de formaturas, casamentos e festas de debutantes, aos mais improvisados.
O grande ponto de encontro de Campos Altos era a Praça da Estação. Ali, reuniam-se comércio, cinema, a própria Estação e todo o charme de uma praça muito arborizada. É quase unanimidade o saudosismo da praça antes de sua reforma mais recente, em 2005. Cheia de bancos, tinha pequenos canteiros e até um caramanchão. Seu projeto harmonizava com o cinema e a estação. Era tradicional acompanhar a chegada do trem sentado nos bancos, assim como vários outros tipos de lazer, como conversas informais e até o próprio footing. O comércio também movimentava a região, principalmente nos finais de semana, com vendinhas de comida e as horas dançantes. Depois da reforma, fica a saudade do encanto pela antiga praça compartilhado pelos moradores.
A vida esportiva em volta da Estação também era intensa. Nos seus arredores foi construído um campinho de futebol e uma quadra de vôlei, utilizados tanto pelos ferroviários quanto pelos moradores. Além dessas atividades, a cidade tinha uma grande piscina para uso público. Construída pelo prefeito Chico Raimundo (que governou de 1970 a 1980), ela ficou bastante conhecida na cidade, assim como o espaço de esportes na Praça da Estação. Muitos também vinham de cidades vizinhas pelo trem para utilizar esses espaços.
Próximo à ferrovia, ficava uma caixa d’água. Além de necessária para a manutenção da via e dos vagões, ela era importante para o abastecimento das antigas marias-fumaças, movidas a vapor. O uso era reservado para os trabalhadores e para a linha férrea, e a caixa ficava até mesmo trancada com um cadeado. Ferroviários aposentados relataram sobre o período em que foi colocado um chuveiro na caixa d’água para que pudessem se banhar.
As lavadeiras do entorno muitas vezes também usavam a água da caixa, como a senhora Margarida, conhecida por lavar e passar as roupas dos funcionários da ferrovia.
Inaugurado em 1960, o cinema inicialmente recebia seus filmes por um vagão específico do trem que trazia os rolos para a cidade. Localizado na Praça da Estação, suas sessões eram aguardadas pelos moradores locais e lotavam. O prédio compõe um complexo arquitetônico de estilo art déco, em conjunto com a estação de Campos Altos e com a antiga praça, antes de sua reforma. O cinema fazia brilhar a cidade e os olhos de quem ansiava pelas matinês ou sessões noturnas de filmes variados e em alta na segunda metade do século 20 – como “Tarzan”, “Rocky Balboa”, “De Volta para o Futuro” e outros clássicos do período, em sua maioria, hollywoodianos. Naqueles tempos, as crianças achavam maneiras de ganhar um trocado para não perder as matinês. Uma forma muito comum de fazer isso era coletando grãos de café que achavam caídos na estação e vendendo-os nos mercados do entorno. O prédio foi paixão coletiva dos moradores da região até 1990, quando a telona se encerrou e o cinema fechou as portas. Hoje, um grande depósito de café ocupa o espaço.
“A praça era lotada, muito cheia mesmo, que é onde a juventude vinha para fazer os encontros. Era na praça que tinha o cinema na época, eu até cheguei a passar filme muitos anos lá. Dava muita gente nos filmes, que era só filme bom na época. E dava uma fila, que às vezes a fila chegava aqui na frente do dormitório, a gente tinha que levar cadeira para o pessoal sentar no cinema de tanto que ficava lotado. Lá em volta tinha vários bares, tinha também restaurante, então, era um movimento muito bom aqui na praça. E o cinema lotado, a gente tinha as matinês, era todo domingo meio-dia. A matinê era mais para as crianças. Tinha à noite os filmes, sempre lotado o movimento na praça.”
Depoimento cedido por Jarbas Ribeiro de Carvalho, dono do “Jornal Campos Altos”.