A ferrovia proporcionou experiências e aprendizados que abriram um leque de oportunidades e experiências para os ferroviários. Seja por meio dos cursos da Escola Profissional ou por habilidades desenvolvidas na convivência com os colegas, os ferroviários puderam adquirir conhecimentos variados que reverberaram por outros campos de suas vidas.
Olá, pessoal! Todos bem e saudáveis? Meu nome é Maria e trabalho como auxiliar de serviços médicos no Hospital Ferroviário!
De marceneiro a professor – o impacto da ferrovia na minha trajetória
“Lembro com saudade do tempo que estudei na Escola Profissional. Foi lá que aprendi a minha profissão de marcenaria. Não fiquei muito tempo na ferrovia; depois de formar, trabalhei apenas sete anos na oficina de manutenção, construindo vagões, mas passei em um concurso em Belo Horizonte e fui dar aulas de marcenaria em escolas estaduais. Atuei muito tempo como professor, chegando aos 25 anos de carreira. Hoje, com mais de 80 anos, eu olho pra trás e vejo que a minha passagem pela ferrovia foi rápida, mas mudou minha vida. Lá eu fiz muitos amigos e ainda aprendi a profissão que eu amo.”
“A ferrovia esteve presente na minha vida desde o meu nascimento. Vim de família ferroviária, nasci no Hospital Ferroviário. Com 18 anos, entrei para ser aprendiz de agente de estação. Me tornei agente, depois controlador de pátios e, por fim, programador de logística. Foram 30 anos de trabalho. Esse tempo me fez conhecer um traço importante da minha personalidade: meu espírito de liderança. Sempre busquei garantir boas condições de trabalho e de lazer para mim e meus colegas. Fui até presidente da AFA. Mesmo depois de me aposentar ainda procurei me manter ativo e me tornei subsecretário de obras da cidade. A minha trajetória na ferrovia mudou minha vida e continua influenciando minhas escolhas, mesmo depois da aposentadoria.”
Jaime Ganso, ferroviário, programador de logística aposentado.
As habilidades que a ferrovia me deu eu levei pra vida
“Fui aluno da Escola Profissional por exigência do meu pai, que era ferroviário. Fiz o curso de soldador, minha primeira profissão. Pude aprender muita coisa no ambiente ferroviário; mas posso dizer que o curso de soldador impactou muito a minha vida, pois eu desenvolvi uma habilidade manual muito boa. No curso eu fabricava peças, ferramentas, instrumentos de trabalho. Fui pegando o jeito e comecei a construir coisas pra mim, maquetes, quadros e até alguns móveis. Eu posso dizer que a ferrovia me ensinou uma habilidade que eu levei pra outras áreas da minha vida.”
Edson Linger, ferroviário, maquinista aposentado.
Escola Profissional Ferroviária
Inaugurada em julho de 1942, a escola profissional tinha a intenção de formar adolescentes que pretendiam trabalhar na ferrovia. O curso durava três anos, composto por aulas gerais e técnicas, nos turnos da manhã e da tarde. As vagas eram destinadas apenas a meninos com idades entre 14 e 16 anos, parentes de ferroviários ou/e aprovados no exame de seleção. A escola oferecia formações para os cargos de: ajustador, torneiro, aplainador, caldeireiro, ferreiro, fundidor, soldador, eletricista, carpinteiro e marceneiro. Trinta anos após a sua inauguração, em 1972, encerrou suas atividades, e espaço foi cedido ao Centro de Formação Profissional, que realizava treinamentos com os ferroviários.
Escola Primária Carmela Dutra
Foi uma entidade que proporcionava o ensino a nível básico/fundamental aos filhos e filhas de ferroviários que tivessem entre 7 e 14 anos. A escola foi inaugurada em maio de 1948 e funcionou por cerca de 28 anos. Ficava na rua Esplanada, próxima à entrada das oficinas de locomoção – fato que aproximava os familiares da vida escolar dos filhos. Com o tempo, a escola passou a receber também crianças que não tinham vínculo direto com a ferrovia, atendendo, assim, outras pessoas da comunidade.
Escola Técnica de Educação Familiar
Também conhecida como ETEF, era um centro de formação destinado às mulheres. Tinha como objetivo promover cursos práticos que envolvessem a vivência doméstica, com aulas de corte e costura, horticultura, bordado, tricô, culinária, datilografia, enfermagem e cultivo de flores. Além dos cursos profissionalizantes, havia também a prática de esportes. A escola recebia moças de 15 a 18 anos, e suas aulas aconteciam na sede da Goyaz Atlética. Eram equivalentes à formação ginasial – ou o Ensino Médio, como conhecemos hoje. Uma ação interessante desenvolvida pelas alunas foi a criação do jornalzinho ETEF: o produto era feito mensalmente e continha notícias, divulgação de eventos, poesias, artigos, entre outros temas que abrangiam o cotidiano das alunas e da comunidade.
A escola foi inaugurada em maio de 1953 e funcionou por cerca de vinte. Em 1973, teve suas funções reduzidas e passou a oferecer apenas cursos rápidos. Em 1975, a ETEF foi desativada.
Oficina de Locomoção
As oficinas da Estrada de Ferro Goyaz eram importantes sítios de aprendizagem e trabalho na cidade. Nelas, os alunos da Escola Profissional tinham oportunidade de fazer aulas práticas e compreender o exercício de sua futura profissão. O local também era um dos principais empregadores da cidade, com cerca de 1.000 funcionários na década de 1980.
A inauguração do complexo de oficinas da EFG aconteceu em 19 de abril de 1944. O espaço de 7.875 m2 era composto por quatro pavilhões: o central, destinado a locomoção, e mais três pavilhões, destinados a serraria, fundição, entre outras atividades.
A Oficina de Locomoção era destinada à fabricação de vagões e abarcava desde a fabricação de peças até a linha de montagem.
Tipografia
Ficava localizada nas Oficinas Gráficas da EFG. Esse prédio atendia as demandas tipográficas de toda a Estrada de Ferro de Goiás, desde seu início até Goiânia. Seus principais serviços envolviam a fabricação de bilhetes, balanços e balancetes em geral da EFG, além da produção dos jornais internos O Aprendiz e O Ferroviário, com Boletins Pessoais publicados quinzenalmente. Além dos serviços principais, a gráfica produziu em 1958 um romance de grande sucesso, com cerca de 400 páginas, chamado Elos da mesma corrente. A escritora do livro, Maria do Rosário Fleury, era esposa do diretor da EFG, Jerônimo Augusto Curado Fleury, e foi uma das fundadoras da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás. O romance concedeu à autora o Prêmio Júlia Lopes de Almeida da Academia Brasileira de Letras, agraciado pela primeira vez a uma escritora goiana.