Condições de trabalho
Ser ferroviário exigia dedicação e compromisso – afinal de contas, os dias nas estações, oficinas e na linha eram de muito serviço. A ferrovia, tanto em Araguari quanto no resto do Brasil, passou por diferentes momentos: já pertenceu ao Estado e à iniciativa privada, e isso impactou diretamente a experiência dos ferroviários. Reunimos aqui alguns depoimentos sobre as condições de trabalho de diferentes tipos de profissões que atuavam no ambiente ferroviário. Elas serão apresentadas pelos próprios ferroviários, que vão nos contar sobre os benefícios trabalhistas, as condições de segurança, os movimentos sindicais e também os desafios de ser um trabalhador da linha férrea.
“Entrei pra trabalhar na oficina de locomoção em 18 de agosto. E dia 19, fiz 15 anos […]. O primeiro pagamento foi em dezembro, porque atrasava. Recebi 3 mil e tanto, ganhava trezentos e pouco, mas acumulou e recebi um dinheirão. Pra mim era bom, eu morava com meu pai. Mas tinha o Machadinho, que era casado, ele saiu e foi trabalhar de encanador. Ficamos muito tempo recebendo de seis em seis meses, até passar a ser diarista, recebe todo mês. Mas os primeiros dois anos foram assim, de seis em seis meses.”
Magno Camargo, ferroviário, torneiro mecânico aposentado.
“Porque na condição de estatal a coisa era meio sem dono, ninguém respondia por nada, acontecia muito acidente. Não tinha aquela preocupação. Se estava parado o transporte em função de acidente, não mediu o prejuízo que estava tendo. Depois da privatização a coisa começou a funcionar como uma empresa privada, né? Privada tem que ver resultados e tudo, né? E essa preocupação da segurança do trabalho pra não impactar nos lucros da empresa, no clima e no ambiente de trabalho, porque em local que acidenta muito o ambiente não é bom, pessoal trabalha preocupado, então, né? Aí mudou tudo. Meu tempo na ferrovia foram quinze anos na condição estatal e outros quinze anos na condição de iniciativa privada.”
Jaime Ganso, ferroviário, programador de logística aposentado.
“Por volta de 1970 e 1996 eles pagavam direitinho as horas. Se a sua viagem demorasse, aí, 24 horas, vamos supor, (oito horas era o normal), as horas restantes, extras, tinham o seu valor específico. Tinha diferença se fosse diurno, se fosse noturno. Tinha também os acréscimos de insalubridade e periculosidade, por conta do ruído do motor a diesel, como também por estar em cima de um tanque de combustível. Aí, juntando com a diária, muitas vezes o valor ultrapassava o salário.”
Edson Linger, ferroviário, maquinista aposentado.
“Entrei ganhando 1.600 reais por mês e um “abono de emergência”, de 390 reais. Já era um benefício, mais as horas extras. Todo serviço que eu fazia, inspeção, viagem… eu ganhava diária. Serviços que saía de chave, que quer dizer do pátio. Pagavam diária. Às vezes eu dormia na cantina da ferrovia das cidades. Almoçava, jantava na cantina. Tudo por conta da ferrovia. Tivemos uma época de auxílio babá. Cheguei a pegar um auxílio desse para meu filho que estava com quatro anos na época.”
Walter Eustáquio, policial ferroviário aposentado.
“Aqui nós tínhamos o vale-alimentação, plano de saúde, né? Então, além do salário tínhamos um quinquênio, depois passou a ser anuênio. E eu era muito viajante, então fazia muita diária, muitos serviços extras em termos de viagens, substituindo nas estações.”
Hugo Belchior, ferroviário, agente de estação aposentado.
“Eu não diria bons pagamentos porque, quando eu entrei na rede, eu entrei ganhando menos do que eu ganhava na prefeitura, mas eu tinha segurança. Eu buscava segurança. Na rede eu entrei com carteira assinada, o INSS está direitinho, fundo de garantia. Os direitos trabalhistas eram garantidos. Tinha minhas férias.”
Milson da Silva, ferroviário, maquinista aposentado.