Os primeiros habitantes do Cerrado

A colonização do atual Triângulo Mineiro não foi pacífica. O espaço era ocupado pelo povo Kaiapó, que vivia nas regiões do Cerrado de Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Eles eram conhecidos pela luta ferrenha que impuseram aos colonizadores para permanecerem em suas terras. Para afastar as ameaças, armavam emboscadas e dificultavam a invasão de seus territórios. Os portugueses, contudo, tinham muito interesse em ocupar a região entre os rios Grande e Paranaíba, importante via de passagem para as expedições e tropas rumo às minas de ouro e de pedras preciosas. Depois de muitas tentativas frustradas de exterminar os Kaiapó, Portugal organizou em 1748 uma expedição que agregou outros grupos indígenas trazidos de Mato Grosso e só assim conseguiu dominar o território. Enfrentando tantos embates, a etnia teve praticamente todo o seu povo dizimado. Hoje, se distribui em pequenos grupos, juntamente de outros povos e em outras regiões.

Herança kaiapó

Os Kaiapós tinham como principais atividades a horticultura, a caça e a coleta e costumavam cultivar milho, mandioca, feijão, abóbora e batata-doce. Merece destaque o plantio de milho, cultivado de acordo com técnicas próprias e contava com intensa participação feminina, visto que as mulheres lideravam todo o processo, desde o início até a colheita. As técnicas desenvolvidas pelos Kaiapós para uso do solo no Cerrado foram, inclusive, adotadas pelos invasores brancos, com pequenas alterações. Esses povos originários, como tantos outros no Brasil, deixaram grandes ensinamentos, principalmente com relação à divisão do trabalho com as mulheres e ao cultivo do solo por meio de técnicas próprias, aliados a princípios de preservação e amor pela terra.

“O plantio era feito pelas mulheres, em sistema de mutirão, quando algumas abriam as covas e outras jogavam nelas três ou quatro grãos. Uma vez maduras as espigas, as mulheres percorriam novamente a roça para quebrá-las, para proteger a colheita das chuvas. As espigas eram recolhidas aos poucos nos paióis — pequenas construções de duas águas, cobertas de sapé e elevadas do chão. Após a colheita, a área era normalmente usada para o plantio do feijão, utilizando-se a haste do milho como proteção e suporte para as ramas (Galvão, 1979).”

Trecho retirado do texto “Os índios da Farinha Podre” de Luís Augusto Bustamante Lourenço

Riqueza hídrica

Hoje, Araguari é muito reconhecida pelo seu grande potencial de ecoturismo, sobretudo por sua riqueza hídrica, com mais de 150 cachoeiras catalogadas na região. Confira a lista abaixo.

Entre grandes e pequenas quedas

01 – Cachoeira Caminho das Águas

02 – Cachoeira Caminho das Pedras

03 – Cachoeira da Bocaina

04 – Cachoeira da Francelina (Complexo de Cachoeiras da Francelina)

05 – Cachoeira do Amaral (Complexo de Cachoeiras da Francelina)

06 – Cachoeira Canoas (Complexo de Cachoeiras do Córrego Canoa)

07 – Cachoeira do Neca – Queda 1 (Complexo de Cachoeiras do Córrego Canoa)

08 – Cachoeira do Neca – Queda 2 (Complexo de Cachoeiras do Córrego Canoa)

09 – Cachoeira Copel (Complexo de Cachoeiras da Copel)

10 – Cachoeira do Escorregador (Complexo de Cachoeiras da Copel)

11 – Cachoeira do Cipó (Complexo de Cachoeiras da Copel)

12 – Cachoeira dos Espinhos

13 – Cachoeira das Corredeiras

14 – Cachoeira do Poço

15 – Cachoeira da Escada

16 – Cachoeira da Grota

17 – Cachoeira da Gruta

18 – Cachoeira da Nascente

19 – Cachoeira das Irmãs (Bete)

20 – Cachoeira do Almeida

21 – Cachoeira do Bom Jardim

22 – Cachoeira do Bruno

23 – Cachoeira do Chicão

24 – Cachoeira do Clayton Brasil

25 – Cachoeira do Desamparo – Queda 1

26 – Cachoeira do Desamparo – Queda 2

27 – Cachoeira do Doca – Queda 1

28 – Cachoeira do Doca – Queda 2

29 – Cachoeira da Roda/Doca – Queda 3

30 – Cachoeira do Taninho (Complexo de Cachoeiras do Taninho)

31 – Cachoeira da Ferrugem (Complexo de Cachoeiras do Taninho)

32 – Cachoeira da Matinha (Complexo de Cachoeiras do Taninho)

33 – Cachoeira do Cano (Complexo de Cachoeiras do Taninho)

34 – Cachoeira Araguari (Complexo de Cachoeiras do Córrego do Fundão)

35 – Cachoeira do Banho (Complexo de Cachoeiras do Córrego do Fundão)

36 – Cachoeira do Eco (Complexo de Cachoeiras do Córrego do Fundão)

37 – Cachoeira do Fundão (Complexo de Cachoeiras do Córrego do Fundão)

38 – Cachoeira do Guardião (Estância do Guardião)

39 – Cachoeira da Esmeralda (Estância do Guardião)

40 – Cachoeira da Tartaruga (Estância do Guardião)

41 – Cachoeira da Noiva (Estância do Guardião)

42 – Cachoeira da Pia (Estância do Guardião)

43 – Cachoeira do Caracol (Estância do Guardião)

44 – Cachoeira do Ipê – Queda 1 (Complexo de Cachoeira dos Verdes)

45 – Cachoeira do Ipê – Queda 2 (Complexo de Cachoeira dos Verdes)

46 – Cachoeira do Ipê – Queda 3 (Complexo de Cachoeira dos Verdes)

47 – Cachoeira do Mel

48 – Cachoeira do Mutum

49 – Cachoeira do Rosto

50 – Cachoeira do Taquaral

51 – Cachoeira do Tembé

52 – Cachoeira do Tibá

53 – Cachoeira Raios de Luz

54 – Cachoeira dos Marimbondos

55 – Cachoeira Lambari (Complexo de Cachoeiras do Córrego do Lambari)

56 – Cachoeira da Fia (Complexo de Cachoeiras do Córrego do Lambari)

57 – Cachoeira Nossa Senhora da Conceição (Complexo de Cachoeiras do Córrego do Lambari)

58 – Cachoeira da Zefina (Complexo de Cachoeiras do Córrego do Lambari)

59 – Cachoeira Lambarizinho (Complexo de Cachoeiras do Córrego do Lambari)

60 – Cachoeira Londrina

61 – Cachoeira Pindaituba

62 – Cachoeira Proibida

63 – Cachoeira Salto Brasil

64 – Cachoeirinha – Queda 1

65 – Cachoeirinha – Queda 2

66 – Cachoeira da Cascata

67 – Cachoeira da Cascatinha

68 – Cachoeira da Travessia

69 – Cachoeira da Volta

70 – Cachoeira da Yoga (Complexo de Cachoeiras da Yoga)

71 – Cachoeira Gêmea (Complexo de Cachoeiras da Yoga)

72 – Cachoeira das Flores

73 – Cachoeira das Mangas (Complexo de Cachoeiras das Mangas)

74 – Cachoeira das Meninas (Complexo de Cachoeiras das Mangas)

75 – Cacheira dos Búfalos (Complexo de Cachoeiras das Mangas)

76 – Cachoeira do Achado

77 – Cachoeira do Coruja

78 – Cachoeira do Desfiladeiro

79 – Cachoeira do Hamilcar – Queda 1

80 – Cachoeira do Hamilcar – Queda 2

81 – Cachoeira do Hamilcar – Queda 3

82 – Cachoeira do Leandro

83 – Cachoeira do Pedrão

84 – Cachoeira do Piçarrão

85 – Cachoeira do Retiro Velho – Queda 2

86 – Cachoeira do Tubertino

87 – Cachoeira Escondida

88 – Cachoeira Little Boy

89 – Cachoeira dos Mendonça

90 – Cachoeira do Cascão (Complexo de Cachoeiras do Marcelo)

91 – Cachoeira do Marcelo (Complexo de Cachoeiras do Marcelo)

92 – Cachoeira Dona Nair (Complexo de Cachoeiras do Marcelo)

93 – Cachoeira Nona Branca (Complexo de Cachoeiras do Marcelo)

94 – Cachoeira Queda D’água

95 – Cachoeira Realiza

96 – Cachoeira Raijin

97 – Cachoeira dos Cactus

98 – Cachoeira Secreta

99 – Cachoeira do Mirandinha

100 – Cachoeira da Serra do Brás

101 – Cachoeira do Sapé (Complexo de Cachoeiras do Sapé)

102 – Cachoeira da Arapuca (Complexo de Cachoeiras do Sapé)

103 – Cachoeira da Pedra Caída (Complexo de Cachoeiras do Sapé)

104 – Cachoeira do Brejo Alegre – Queda 1

105 – Cachoeira do Brejo Alegre – Queda 2

106 – Cachoeira do Calebe

107 – Cachoeira da Laje

108 – Cachoeira Cascata da Estradinha

109 – Cachoeira Alto do Morro

110 – Cachoeira Baixo do Morro

111 – Cachoeira da Banheira

112 – Cachoeira do Tomate (Complexo de Cachoeiras da Barra Alegre)

113 – Cachoeira da Janela (Complexo de Cachoeiras da Barra Alegre)

114 – Cachoeira da Surpresa (Complexo de Cachoeiras da Barra Alegre)

115 – Cachoeira das Vespas (Complexo de Cachoeiras da Barra Alegre)

116 – Cachoeira da Fenda (Complexo de Cachoeiras da Barra Alegre)

117 – Cachoeira Impossível (Complexo de Cachoeiras da Barra Alegre)

118 – Cachoeira do Destino (Complexo de Cachoeiras da Dona Irene)

119 – Cachoeira do Senna (Complexo de Cachoeiras da Dona Irene)

120 – Cachoeira do Corredor (Complexo de Cachoeiras da Dona Irene)

121 – Cachoeira Duas Quedas (Complexo de Cachoeiras da Dona Irene)

122 – Cachoeira do Baesse (Complexo de Cachoeiras do Baesse)

123 – Cachoeira do Coqueiro (Complexo de Cachoeiras do Baesse)

124 – Cachoeira Maravilha (Complexo de Cachoeiras do Baesse)

125 – Cachoeira das Taiobas (Complexo de Cachoeiras do Baesse)

126 – Cachoeira da Capela do Salto

127 – Cachoeira do Bueninho

QUEDAS MENORES

128 – Cachoeira do Minoro

129 – Cachoeira da Serra da Patrona

130 – Cachoeira Santa Matilde

131 – Cachoeirinha do Caldeirão

132 – Cachoeira Nova Terra

133 – Cachoeira do Retiro Velho – Queda 1

134 – Cachoeirinha dos Morcegos

135 – Cachoeirinha dos Trilhos

136 – Cachoeirinha das Irmãs

137 – Cachoeirinha das Flores

138 – Cachoeira da Tia Leandra

139 – Cachoeirinha da Ponte de Ferro

140 – Cachoeirinha da Porteira de Ferro

141 – Cachoeirinha do Escorrega

142 – Cachoeirinha do Hamilcar

143 – Cachoeirinha do Taquaral

144 – Cachoeirinha do Calebe

145 – Cachoeirinha da Mina D’água (Complexo de Cachoeiras da Francelina)

146 – Cachoeirinha do Café (Complexo de Cachoeiras da Francelina)

147 – Cachoeirinha dos Bambus (Complexo de Cachoeiras da Francelina)

148 – Cachoeirinha do Poço (Complexo de Cachoeiras do Córrego Canoa)

149 – Cachoeirinhas do Bezerro (Complexo de Cachoeiras do Córrego do Fundão)

150 – Cachoeirinha do Sangue Suga (Complexo de Cachoeiras do Córrego do Fundão)

151 – Cachoeirinha do Vagão Tombado

152 – Cachoeirinha da Bocaina

O começo da história do Brejo Alegre

Após a invasão dos colonizadores, o Triângulo Mineiro passou a ser ocupado por sesmarias. Nesse sistema, o sesmeiro tinha o direito de uso da terra e, para isso, deveria ser vinculado à Igreja Católica e produzir no local. No caso dessa região, a ocupação ocorreu gradativamente. O território era extenso, habitado por animais selvagens, e a exploração do local era perigosa devido a ataques e assaltos. Muitas vezes, após o uso do solo, o requerente da terra a abandonava em busca de outras, o que tornava a ocupação ainda mais morosa.

O espaço que se tornaria Araguari era, assim, um aglomerado de fazendas surgidas a partir das sesmarias. Segundo conhecimento popular, o Major do Córrego Fundo, Antônio da Costa Pereira, que era um sesmeiro, doou sobras das terras à Igreja Católica. Ali nasceu o povoado, que passou a ser chamado de Vilarejo de Brejo Alegre. O Major é considerado o fundador da cidade, entretanto, nunca foi encontrado documento que comprovasse a doação.

O maior diamante do Brasil

O povoamento da região foi acelerado por conta do descobrimento de áreas de garimpo de diamantes nos leitos de rios locais, atraindo aventureiros de todo o Brasil. O mais famoso foi o garimpo de Bagagem (atual cidade de Estrela do Sul, 60 km a oeste de Araguari), onde, por volta de 1849, cerca de 30 mil pessoas já se amontoavam em condições precárias. Em 1853, foi achado ali um diamante de rara beleza, com 254,5 quilates – na época, o maior já encontrado no Brasil –, que ganhou o nome de Estrela do Sul.

Com a instalação da Igreja, o Brejo agora é freguesia

Em 1843, o povoado de Brejo Alegre se tornou distrito de Uberaba e, duas décadas depois, em 1864, foi elevado à categoria de freguesia/paróquia em função da construção de uma igreja no local. Essa designação é extremamente notável, pois, a partir desse reconhecimento, o local passou a ser um polo religioso e civil da região, além de conquistar assistência permanente. A igreja possibilitava agora o registro formal de nascimento, casamento e falecimento dos habitantes; portanto, sua chegada contribuiu para o crescimento da população e da economia locais.

“As pessoas livres ou escravas passaram a ter direito ao registro de nascimento, batismo, matrimônio e falecimento lavrados nos livros da Igreja Matriz, que aderiu como devoção a imagem do Senhor do Bom Jesus da Cana Verde.”

Trecho retirado do livro A Ferrovia em Araguari das historiadoras Juscélia Peixoto e Aparecida Abadia.

De que lado? Goyaz ou Minas?

Com o crescimento da Freguesia de Brejo Alegre, o local passou a ser popularmente “dividido” em dois lados: o Goyaz e o Minas. Essa divisão aconteceu dentro do próprio território da cidade e não abarcava o estado de Goiás, apesar de um dos lados levar esse nome. A divisão era delimitada por um córrego que atravessava a cidade, mas passou a representar também dois espaços distintos. Na parte Minas, estavam os primeiros estabelecimentos e residências surgidos na freguesia, além da Igreja da Matriz do Senhor Bom Jesus da Cana Verde, sede da paróquia. Já na parte Goyaz, foi construída a Igreja do Rosário, que tinha como objetivo criar um espaço para que os negros e negras pudessem seguir os preceitos da Igreja Católica. No entanto, o lado Goyaz, chamado assim por conta da sua localização geográfica, passou a abarcar a cultura negra de modo mais vasto com a proliferação das manifestações culturais de origem africana como o Congado, Moçambiques e Catupés.

O Brejo Alegre agora é Cidade de Araguari

Na década de 1880, a Freguesia de Brejo Alegre tinha cerca de 30 ruas e incluía outros elementos que a qualificariam para a emancipação. Distrito da Bagagem Diamantina – hoje cidade de Estrela do Sul –, Brejo Alegre foi elevado à condição de vila em 1884, formou sua primeira Câmara e se tornou independente. Por fim, em 1888, após projeto impetrado na Assembleia Provincial de Minas Gerais, a Vila de Brejo Alegre foi elevada à categoria de cidade e teve seu nome alterado para Araguari. A grafia utilizada na lei foi alterada na década de 1940, quando uma reforma ortográfica retirou o Y do alfabeto brasileiro. Assim, Araguary passou naturalmente a ser escrita “Araguari”. Oito anos após sua emancipação, um evento mudaria os rumos da cidade.

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Estação Araguari

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Estação Carmo do Cajuru

Estação São João del-Rei

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