Povos Indígenas de Alagoinhas
Os povos originários do território, no qual se localiza Alagoinhas, pertenciam a dois troncos linguísticos: Tupi-Guarani e Macro-Jês. Um número expressivo deles, apesar da resistência, foi dizimado durante o processo de colonização. A violência física e simbólica levou ao apagamento de parte dos seus fazeres e saberes. Contudo, assim como aconteceu em outras regiões do Brasil, apesar do processo de colonização, seus descendentes (miscigenados ou não) sobreviveram, bem como alguns de seus símbolos e modos de vida.
Em Alagoinhas encontramos diversos elementos culturais que remetem aos povos originários. Observamos os ecos desses povos em seus descendentes que vivem na região. Um exemplo é a forma como os alagoinhenses, da zona rural, nomeiam coisas e lugares. Um estudo das linguistas Edileuza Moura Candido da Silva (UNEB) e Celina Márcia de Souza Abbade (UNEB) demonstra que a toponímia rural de Alagoinhas é predominantemente indígena.
Para além da questão linguística, o consumo de determinados alimentos, como a mandioca e a farinha; a aplicação de certas técnicas ao plantio, são características entendidas como práticas indígenas. No censo demográfico de 2022, em Alagoinhas, o IBGE identificou 1356 pessoas indígenas no território, sendo que 1036 são por autodeclaração.
“Alagoinhas é um armazém de bens simbólicos indígenas. Se você for à feira, 80% dos produtos ofertados ou consumidos são feitos de forma original, como os indígenas faziam.” Relato de Littusilva, artista e estudioso dos povos indígenas de Alagoinhas.
Povos Quilombolas de Alagoinhas
Diversos povos africanos foram trazidos à força para o Brasil durante a colonização portuguesa e sofreram intensas violências físicas e simbólicas. Ainda assim, resistiram e deixaram importantes marcas culturais, cujos símbolos e tradições seguem vivos.
Os quilombos foram muito mais do que locais de refúgio contra a opressão dos senhores de engenho — constituíram espaços de resistência, onde se mantinham vivas as manifestações culturais, sociais e religiosas dos diversos grupos africanos.
O fim da escravidão foi decretado pela Lei Áurea em 1888, porém essas populações sofreram sem acesso a direitos básicos e sem leis de reparação às violências sofridas. Cem anos depois, com o fortalecimento do movimento negro no Brasil e com a criação da Constituição de 1988, o termo “quilombo” passou a assumir novos significados. Hoje, refere-se às comunidades formadas por descendentes de pessoas escravizadas que preservam suas tradições e saberes ancestrais. Além de representar uma identidade coletiva, quilombo tornou-se também uma categoria política de reconhecimento e reivindicação de direitos.
Atualmente, Alagoinhas abriga três comunidades quilombolas remanescentes reconhecidas pela Fundação Cultural Palmares: Oiteiro e Cangula, localizadas no distrito de Boa União, e Catuzinho, situada entre os municípios de Alagoinhas e Aramari.
Mandiocultura
No quilombo de Catuzinho, a principal atividade econômica é o cultivo da mandioca e seus derivados, como a farinha, o beiju, entre outros. A produção envolve saberes indígenas milenares, preservados e ou reinventados dentro da realidade quilombola. Alagoinhas é o resultado vivo da confluência entre tradições indígenas e quilombolas, que se manifestam no cotidiano, no trabalho coletivo e nas expressões culturais das comunidades.
As casas de farinha são espaços emblemáticos dessa tradição e estão presentes tanto em Cangula quanto em Catuzinho. Nelas, o processamento da mandioca — do plantio à produção da farinha e do beiju — ocorre de forma coletiva. Durante o trabalho, é comum entoarem cantigas tradicionais que atravessam gerações, fortalecendo os laços comunitários e a preservação da memória ancestral.