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A Família Ferroviária e a Cultura Alagoinhense
O conteúdo desse eixo aborda a influência da ferrovia na formação cultural de Alagoinhas, evidenciando como a “família ferroviária” transmitiu saberes e práticas do ambiente de trabalho para o cotidiano familiar, gerando tradições e técnicas que se perpetuaram por gerações. Também destaca a vitalidade cultural da cidade, com a literatura local, a atuação da professora Iraci Gama e da FIGAM, que preservam memória e patrimônio. Também é abordado a relação de Alagoinhas com o futebol e os times ferroviários, a construção do Estádio Carneirão, e a música, refletida na fundação das filarmônicas Euterpe e União Ceciliana. Assim, a presença ferroviária se mostra central na identidade, nas expressões artísticas e na memória coletiva de Alagoinhas.
A família ferroviária
As trocas de saberes e vivências entre os ferroviários, bem como as conversas e encontros na Estação São Francisco, proporcionaram ao cotidiano alagoinhense uma esfera cultural em torno da ferrovia. Os funcionários das oficinas e operários do trem levavam seus conhecimentos para casa, de modo que amigos e familiares vivenciavam a cultura ferroviária não apenas nos ambientes de trabalho, mas também no contexto familiar.
“Muita coisa meu padrasto fez. Muita coisa ele construiu. Ele construiu o fogão. O fogão era uma espécie de mesa de bar com entranças para você tirar as cinzas. E aqueles fogareiros, 4 fogareiros, 4 boquinhas que recebiam carvão e tal. E ele fez esses 4 fogareiros com material da Leste: ferro, sobra de chapa etc.” – Relato de José Jorge Damasceno, alagoinhense, professor e pesquisador da UNEB.
“Então, a maioria dos serralheiros daqui, se for olhar no fundo, é descendente de algum ferroviário. A produção de artesanatos aqui era interessante. Quando se fazia aniversário, era comum ganhar presente. Inclusive, eu me lembro de um tio meu, que estou vendo aqui a imagem, ele fez um pingente de metal.” – Relato de Littusilva, artista e estudioso dos povos indígenas de Alagoinhas.
Literatura Alagoinhense
A existência da Casa do Poeta de Alagoinhas (CASPAL) e da Academia de Letras e Artes de Alagoinhas (ALADA) simboliza a vitalidade da movimentação literária na cidade, configurando a literatura como uma importante forma de expressão cultural.Outro aspecto relevante é que escritores, poetas e artistas locais produzem obras em que a identidade alagoinhense é constantemente elaborada, questionada e reconstruída.Um exemplo disso são os poemas que exaltam a cidade e suas águas, utilizados como meio de sensibilização para a preservação das matas ciliares, dos rios e das lagoas — elementos que compõem Alagoinhas tanto em sua geografia quanto em seu imaginário coletivo.
A causa de uma vida: educação, luta, memória e a FIGAM
Iraci Gama Santa Luzia nasceu em Alagoinhas – Bahia – Brasil, na mesma casa, onde mora até hoje. É professora aposentada da Universidade do Estado da Bahia – UNEB/Campus II – Alagoinhas, desde 2013, quando completou setenta anos e a Lei não mais permitia sua continuidade, em sala de aula. Encerrou a sua caminhada oficial, depois de passar cinquenta anos, trabalhando, diuturnamente, desde quatro de março de 1963 quando começou no Ginásio de Alagoinhas. Aliás, até hoje, ainda é a professora Iraci Gama, como é conhecida na cidade. Ela estuda, pesquisa, escreve, dá entrevistas, formal ou informalmente. E tem sonhos de ver o nosso país e o planeta TERRA melhor cuidado, por seus governantes, para que o povo tenha mais alegria de viver e mais amor no coração! Por isso, continua trabalhando particularmente, na área cultural e política. Entre 2017 e 2020 foi Vice-Prefeita de Alagoinhas e retomou suas atividades na Secretaria de Cultura, Esporte e Turismo. Deixou o lugar de Vice em 2021, mas continuou como Secretária, com muito orgulho e satisfação até 2024. É apaixonada pelo Trem e está escrevendo o volume dois do Livro “MEMÓRIA, NARRATIVA E IDENTIDADE – A CIDADE FERROVIÁRIA DE ALAGOINHAS”, em continuação ao volume I que foi publicado no 22 de junho de 2022. Agradecer a Deus, por tudo que recebeu nessa vida é uma obrigação que realiza, diariamente. E é a ELE que pede que continue abençoando nosso povo, nosso país, nosso mundo! – Texto autobiográfico feito por Iraci Gama Santa Luzia.
A professora Iraci Gama tem dedicado sua vida pessoal e pública à preservação, valorização e difusão da cultura de Alagoinhas, bem como dos valores de seu povo e da memória ferroviária da cidade. Sua atuação no setor cultural antecede à criação da Secretaria de Cultura, Lazer e Esportes de Alagoinhas. Todo o acervo desse espaço pertencia à professora Iraci Gama ou foi por ela adquirido. Em mais de quarenta anos mobilizando os setores da cultura e da educação no município, ela comprova, como dizia Guimarães Rosa, que “o que a vida quer da gente é coragem”. A professora não hesitou: fez. E, por isso, é possível a existência desse espaço. A equipe do Estação de Memórias agradece a parceria e colaboração, sentindo-se honrada por conhecer e trabalhar com um acervo tão completo, belo e singular.
Casa de Cultura de Alagoinhas.
Autoria: Totinha, 1987.
Acervo FIGAM.
Viagem da Linha São Francisco – Aramari. Autoria: Totinha, 1990.
Acervo FIGAM.
Viagem do trem de passageiros. Autoria Totinha, 1994.
Acervo FIGAM.
Instalação da FIGAM na Estação São Francisco. Autoria: Totinha, 13 de fevereiro de 2003.
Acervo FIGAM.
Iraci Gama, presidente da FIGAM e professora da UNEB, acompanhada por Ivete Sacramento, reitora da Universidade do Estado da Bahia, leva ao Ministro da Cultura, Gilberto Gil, um pedido de restauração da Estação São Francisco.
Fonte: Reitoria da UNEB, 2003.
Acervo FIGAM.
Iraci gama junto da equipe do IPAC fazendo vistoria técnica para um projeto de restauração da Estação São Francisco, em 2004.
Autoria: Totinha, 2004.
Acervo FIGAM.
Movimento em defesa da Estação São Francisco. Autoria Totinha, 2007.
Acervo FIGAM.
Iraci Gama e grupos de samba de roda na comunidade de Oiteiros, no 4º Encontro Cultural das Raízes Quilombolas: Resistência, História e Cultura.
Fonte: Prefeitura de Alagoinhas, 2022.
Abaixo-assinado pelo Trem do Forró.
A professora Iraci Gama, naquele momento secretária de Cultura, na rua junto à FIGAM, organizando um abaixo-assinado para apoiar o projeto de transformação do Trem do Forró em patrimônio cultural de Alagoinhas.
Autoria: JP Oliver, 20 de junho de 2023
Acervo FIGAM.
Estudantes da Escola municipal em visita ao acervo da FIGAM.
Autoria: João Paulo de Oliveira Melo, 2024
Acervo FIGAM.
O carneirão e o futebol
O futebol em Alagoinhas, desde os tempos da ferrovia, sempre foi acompanhado com muito entusiasmo. As disputas entre o time dos ferroviários, Cruz de Ferro, e o time dos alfaiates, o Agulha, despertavam grandes emoções e deixavam ansiosos os torcedores, que acompanhavam cada lance com fervor.Na década de 1970,o timeAtlético de Alagoinhasfoi formado e reafirmou a relação da cidade com o esporte. Carinhosamente apelidado de Carcará, em referência ao seumascote,o clube conquistou o prestígio de seus torcedores, alcançando importantes marcos: em 2018, foi campeão baiano da Série B; em 2020, vice-campeão da Série A; e, em 2021, realizou o sonho de conquistar o título de campeão baiano; e, em 2022, consagrou-se bicampeão baiano.
Carneirão
A construção do Estádio Municipal Antônio Figueiredo Carneiro, oCarneirão, em 1971,evidencia a forte relação de Alagoinhas com o esporte. Sua realização só foi possível graças àintervenção da Liga Desportiva de Alagoinhas, que entregou a área ao prefeito com tal finalidade. Com grande capacidade e dimensões expressivas, o estádio também conta com um circuito de atletismo, incentivando a prática de diferentes modalidades esportivas em seu interior.
“Tive a oportunidade também de acompanhar, não vou dizer a fundação, mas o clubevencedor, que era um clube de ferroviários, especificamente de ferroviários, que tinha time de futebol. A Leste é que tinha o time, o Cruz de Ferro;o clube vencedor era basicamente de ferroviários.” – Relato de Carlos Antônio do Sacramento, conhecido por Caúca, técnico em desenho arquitetônico e percussionista de Alagoinhas.
“Mas, aqui, tem a LDA. Liga Desportiva de Alagoinhas. E essa liga é filiada à Federação Baiana. Então o campeonato aqui era bem disputado.” – JoséTeixeira, comerciante, mora em Alagoinhas há 59 anos.
Carteirinha de Liga Desportiva de Alagoinhas de 1944.
Acervo: FIGAM
Processo de construção do estádio de Alagoinhas, em 1970.
Autoria: desconhecida, 1970.
Acervo FIGAM.
As Sociedades Filarmônicas de Alagoinhas
A Sociedade Filarmônica União Ceciliana foi fundada em 1883 por João Robatto (membro de uma das famílias da colônia italiana em Alagoinhas). E sua fundação se relaciona com a atividade comercial em Alagoinhas. Fundada em 1893, a Sociedade Filarmônica Euterpe alagoinhense é uma das mais tradicionais instituições musicais da cidade. Sua criação está diretamente relacionada à cultura ferroviária e à formação social e cultural da identidade alagoinhense.
Sociedade Filarmônica União Ceciliana de Alagoinhas.
Autoria desconhecida.
Acervo FIGAM.