Abordamos a diversidade econômica de Alagoinhas ao longo da história, destacando desde o período colonial com atividades agropastoris, criação de gado e rota das boiadas, até o século XX, com a produção de couro, fumo, cana, laranjas, exploração de petróleo e o desenvolvimento de cervejarias artesanais e industriais. O trem e a ferrovia tiveram papel central, conectando o comércio, estimulando a circulação de produtos e funcionando como ponto de encontro para vendedores ambulantes e quituteiros. Além disso, o eixo evidencia a relação entre economia e educação, com a criação de escolas técnicas e da Faculdade de Formação de Professores, reforçando a importância de Alagoinhas como polo regional de trabalho, aprendizado e identidade cultural.
"A minha chegada tem cheiro de laranja. Em época de safra, tudo fica mais cheiroso. Se você não me conhece, vou me apresentar: sou Susu! Vendo laranjas e tudo mais que a terra der, pela Estação São Francisco..."
O trabalho em Alagoinhas perpassa diversas atividades econômicas. Desde o período colonial, a atividade agropastoril sempre teve relevância na região. A vila fazia parte da rota das boiadas que atravessavam o sertão em direção a Salvador e ao Piauí. Com a chegada da ferrovia, essa rota foi reafirmada, impulsionando também a comercialização do couro — atividade que ganhou força no século 20, com a instalação de curtumes e matadouros de animais no município. As atividades econômicas da cidade ao longo da história, sempre foram diversificadas como a produção de fumo, cana-de-açúcar, comercialização de couro e laranjas, exploração de petróleo e o destaque atual para as cervejarias artesanais, nacionais e internacionais que produzem e operam em Alagoinhas.
A diversidade comercial é uma característica da cidade, estando presente tanto no comércio ambulante quanto na central de abastecimento. Nesse espaço físico, onde é possível encontrar uma grande variedade de itens de consumo, a movimentação de pessoas é substancial. Mas, na época do trem de passageiros, era próximo às suas janelas, ou ao redor da estação, que se encontravam os vendedores e os seus quitutes. O local, além de ser um ponto de encontro e conversa, era um espaço de oferta de delícias, no qual se encontrava de tudo um pouco.
“Quando eu vinha para a estação com o meu pai, para pegar o trem logo cedinho, às cinco horas da manhã, em direção a Salvador, eram comunsos objetos lúdicos oferecidos aqui nas plataformas, ea gente,enquanto criança,os desejava: o quebra-queixo, o beiju, o mingau, o café. De manhã cedinho, você tomar um café de tapioca, um mingau de tapioca, comer um beiju molhadinho de coco?!”Relato de Littusilva, artista e estudioso dos povos indígenas de Alagoinhas.
“O trem, ele era um empório, né? Por quê? Vendia-se de tudo.Vendia-se comida, guloseimas: cocada, pirulito, bolo, pamonha e milho, dependendo da época.”Relato de Jorge Damasceno, professor e pesquisador alagoinhense.
Matadouro público
O Matadouro Público de Alagoinhas, inaugurado em 1914, é um marco do processo de urbanização associado à ferrovia. Sua imponente estrutura simboliza o desenvolvimento da cidade e a intensificação do comércio de animais e seus derivados. No caso de Alagoinhas, merece destaque o comércio de couro, que já existia antes da ferrovia, mas é ampliado com sua chegada.
Matadouro Público. Autoria: Álbum da Bahia, 1930.
Acervo: FIGAM.
Depósito São Francisco.
Era o local de abastecimento das locomotivas maria-fumaça.
Autoria: Totinha, 1980.
Acervo: FIGAM.
Educação de Alagoinhas
Alagoinhas também se destaca na área do ensino. A alta demanda gerada pela construção e operação da ferrovia influenciou o surgimento de escolas e o desenvolvimento dessa área desde o século19. Isso fica evidente na publicação do jornal noticiador alagoinhense de 1864, em que um diretor escolar convidaa sociedade a ir à Câmara assistir à aplicação de exames aos alunos, que fariam prova de latim, inglês e francês.O desenvolvimento educacional foi se encaminhando para a área profissionalizante, até que, em1941, ocorre a fundação de uma escola voltada à formação de profissionais para atuar nos vários setores da estrada de ferro.
Escola Normal de Alagoinhas.
A escola inicia suas atividades em 1930 e, em 1936, nessa escola, se formou a primeira turma de alunas-mestras (professoras primárias).
Fonte: Foto tirada para o relatório do prefeito Martins de Carvalho jr de 1938.
Acervo: FIGAM .
Escola Oscar Cordeiro. Autoria: Totinha, 1995.
Acervo: da FIGAM.
Turma do Colégio Santíssimo Sacramento.
Desfile de 7 de setembro de 1960.
Autoria: Totinha, 1960.
Acervo: FIGAM.
Escola de formação técnica de profissionais de Alagoinhas.
Autoria: Joilson. Borges, 2012.
Acervo: FIGAM.
Faculdade de Formação de Professores de Alagoinhas (FFPA)
Um marco importante nesse processo foi a criação da Faculdade de Formação de Professores de Alagoinhas (FFPA), cujo primeiro vestibular aconteceu em janeiro de 1972. A instituição oferecia cursos de licenciatura de curta duração em letras, estudos sociais e ciências e teve grande impacto na formação de professores da cidade e da região. Em 1983, a FFPA passou a integrar o conjunto de instituições componentes da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) em Alagoinhas.
“O trem nunca teve interrupção. Mesmo hoje, nós temos só um trem de carga, mas ainda o temos. Então, são 161 anos de viagens de trem. O trem nunca teve competidor. Ninguém ganha dele.” – Relato de Iraci Gama, professora, pesquisadora e defensora da linha férrea em Alagoinhas.
Trapiches de fumos e de farinha de trigo de Saturnino Ribeiro.
Fonte: Álbum da Bahia, 1930.
Acervo: FIGAM.
De cidade das águas a polo de produção de bebidas
Alagoinhas é uma cidade marcada por uma forte relação com a água. Suas lagoas deram origem ao seu nome, particularmente a fonte dos padres, uma pequena lagoa perto da igreja inacabada na região de Alagoinhas Velha. Ela é a “Lagoinha” que aparece originalmente no nome do arraial até a Vila de Santo Antônio da Lagoinha. Ela e outras tantas, como a lagoa da feiticeira e lagoa do Jeremias foram fundamentais para o abastecimento dos povos originários e para a formação de um núcleo urbano. Além das lagoas, a localidade também abriga o aquífero São Sebastião, que, na atualidade tem transformado a região em um polo de produção de bebidas, graças à qualidade e à abundância de suas águas, atraindo indústrias internacionais e diversas empresas do setor.
Curtume
A criação de gado remonta ao período colonial e sempre teve importância na região. Isso, porque os fardos de fumo exportados da vila eram embalados com couro bovino. O território fazia parte da estrada das boiadas que atravessavam o sertão em direção aoPiauí. A utilização do couro transformou-se em elemento da economia local, através dos curtumes que trouxeram emprego e renda para toda a região.Dentre eles, podemos citar:Santo Antônio, São Francisco, São Paulo, Santa Cruz e, atualmente, as empresas BRESPEL eLucaia.
Trapiches
Os trapiches marcam a história de Alagoinhas a partir da produção e armazenamento do fumo. Há sinais de que essa produção na região é anteriorao século19e teve seu auge no século20.
“Então, 1930 é uma época, talvez a época mais bonita de Alagoinhas, a época de ouro de Alagoinhas. Você encontra trapiches em todo aquele centro. Tem os trapiches de Saturnino Ribeiro, tem os trapiches de Joaquim Cravo, tem os trapiches da família Robato, tem ali naquele centro, os de Moreira Rego, trapiches por todo canto.” – Relato de Iraci Gama, professora, pesquisadora e defensora da linha férrea em Alagoinhas.
Laranjas
Ainda no século20, Alagoinhas teve muita relevância na produção de laranja. Essa produção tem grande destaque ainda na atualidade.Isso se dá pelo tipo da fruta cultivada, a laranja–de–umbigoque se popularizou como “laranja de mesa”,fato que acabou por tornar a cidade conhecida como “Terra da Laranja”.
Alambiques
Alambique remete a produção de cachaça, um líquido que é resultante da destilação do líquido fermentado do caldo de cana. Em Alagoinhas, o plantio da cana remonta ao período colonial, quando os engenhos produziam açúcar para a exportação. Mas, além do açúcar, também eram produzidos: melaço, rapadura, cachaça, vinagre e o próprio caldo de cana utilizado como bebida refrescante.
Petróleo
A relação de Alagoinhas com o petróleo começa com a descoberta de um poço, em 1964. Desde então, vários outros foram encontrados e explorados. Foi uma indústria forte que movimentou a economia da cidade e, apesar de operar em menor escala na atualidade, ainda é significativa na região.