A chegada da ferrovia em Carmo do Cajuru foi repleta de desafios, incluindo a quase proibição pelo padre local e constantes reuniões para garantir uma estação na cidade. A luta pelo progresso envolveu negociações complexas e a determinação da comunidade.
Boa tarde! Somos a Baronesa e o Senhor Lastro e somos passageiros constantes da ferrovia.
A história da da estação começou no dia 16 de julho de 1910, quando saiu a autorização para a linha férrea passar pelo atual município de Carmo do Cajuru. O plano inicial era um trajeto lá pelos lados de São José dos Salgados. Quem fez um esforço imenso para fazê-la passar pela cidade foi Sinfrônio Batista dos Santos. Conta-se que ele ia até Belo Horizonte a cavalo vez atrás de vez para pedir intervenção das autoridades em favor da passagem da ferrovia por aqui. Por fim deu certo! Cajuru seria mais uma das paradas na linha que ligava Garças a Belo Horizonte.
Nem todos queriam a ferrovia
Não foram todos que gostaram da ideia de trazer a ferrovia para a cidade. O padre José Alexandre de Mendonça, por exemplo, foi contra a passagem do trem por Carmo do Cajuru. No entanto, Jacinto Epifânio Pereira teve papel fundamental para reverter a opinião do padre: Jacinto ficou amigo dos engenheiros que trabalhavam na ferrovia e os convidou para as missas do Padre José. Um desses engenheiros era Godofredo Passos. Juntos, eles mostraram ser pessoas religiosas e comprometidas, o que fez o padre mudar de ideia sobre eles e sobre a ferrovia. Depois disso, o pároco resolveu apoiar os trabalhos de construção.
O povo do avançamento
Para que a ferrovia se tornasse realidade em Cajuru, muito trabalho duro precisou ser feito. Dezenas de trabalhadores, várias pessoas de fora, inclusive, pegaram pesado para traçar a linha, colocar os dormentes, fixar os trilhos e construir a estação. Segundo a oralidade, as pessoas que vieram para esse trabalho eram chamadas, à época, de “o povo do avançamento”. Enquanto eles abriam os caminhos e construíam a linha férrea, a construção da nova Matriz estava quase completa; sendo finalizada em 1912.
“Eles iam à frente, no trabalho bruto de abrir picadas e valas, fazer aterros e pontes, no braço, no machado, na enxada, na picareta, na pá.” Ernane Reis Gonçalves, morador de Carmo do Cajuru, em seu conto “O povo do avançamento”.
O avanço chegou – mas junto vieram as epidemias
Cajuru se desenvolvia rapidamente. No entanto, com o “avançamento”, vieram também as epidemias de malária e febre amarela, muito provavelmente trazidas pela repentina chegada de grande número de pessoas para a construção da ferrovia. Foi um período difícil para a cidade, pois muitas pessoas faleceram dessas doenças. Pouco antes, em 1906, a saudosa Maria Taveira ficou doente devido a um resfriado muito forte. Após isso, ela começou a receber pessoas que a procuravam em busca de milagres. Essa procura aumentou muito quando ocorreram os surtos de malária e febre amarela. Acreditavam que ela seria capaz de oferecer a cura por meio de suas orações – e foi aí que ela começou a ser chamada de “Santa de Cajuru”. Vinham dezenas de doentes e seus parentes pela maria-fumaça, buscando os milagres de Maria Taveira.
A maria-fumaça Baronesa
A maria-fumaça de Cajuru, assim como a primeira locomotiva a chegar ao Brasil, também recebeu o apelido de “Baronesa”. As pessoas a tratavam como se fosse uma pessoa, tão grande era o carinho que tinham por ela. Alguns chegavam até a confundi-la com uma mulher de verdade! No dia em que a maria-fumaça chegou a Cajuru pela primeira vez, puxava um comboio de pranchas, várias pessoas vestiram suas melhores roupas, se posicionaram em pontos estratégicos para vê-la e até mesmo decoraram o caminho com arcos de bambu e bandeirolas. Foi um dia de grande festa! Se produzir para ir ver o trem tornou-se costume em nossa cidade e a estação virou ponto de encontro.